O VÍRUS QUE MATA DE FOME
Estamos
na cidade de Paulista, Pernambuco, um bairro qualquer do município onde o sol
do meio dia racha a cabeça de calor de quem está na rua e esquenta o corpo de
forma absurda para quem está dentro de casa. A laje tenta em vão reter a
“quentura” que o sol imprime no teto do lar, o que passa é um tal de mormaço. Dentro,
Dona Luiza, dois filhos e o marido, num dia de domingo, organizam seu almoço em
família.
Alguém
bate no portão da casa, do lado de fora, com um grito sonoro e contínuo: ôh de
casa!!!! Ôh de caaasaaaaa!!! Dona Luiza pede para que um dos filhos, o mais
velho, saia do sofá, estava ele assistindo um programa de televisão esportivo,
e que vá atender a porta e saber quem de forma agoniada não para de gritar lá
do lado de fora. O rapaz, que tem por nome Thiago, abre a porta e vê uma
pessoa, que sem esperar que o menino debruce algum tipo de palavra já se
adianta e diz logo: menino uma esmolinha por favor!
Thiago
permanece atento olhando as mãos estendida do rapaz franzino, de cor negra, que
se sustentava no chão com umas pernas fininhas, se encostando no muro que fazia
um pedacinho de sombra, isso era o suficiente para livrá-lo daquele sol, que
falamos no início deste texto.
O rapaz
diz que vai perguntar ao pai o que tem pra dar de esmola. Thiago fecha a porta
e o homem franzino, de nome e vida esquecida, fica esperando do lado de fora
numa expectativa grande que venha algo para ele comer que já esteja pronto ou
quem sabe um pacote de arroz com feijão, já para adiantar o almoço, se não for
deste dia que seja do próximo.
Thiago
fala ao pai, Seu Arthur, quem está lá fora e o que quer. Seu Arthur diz que na
dispensa há um fubá e que Thiago colocasse ainda numa “combuquinha” um pouco de
cada coisa que tem no fogão para fazer o almoço. Thiago assim o fez, de forma lenta e demorada.
O rapaz, cujo nome não sabemos, e está lá fora se escondendo do sol num
restinho de sombra espera ansiosamente por um retorno positivo. Pela demora não
é possível que não saia nada, pensa ele.
Thiago
passa pela irmã Joana, bate nela sem querer e a garota se irrita. Thiago segue
de forma lenta para entregar o que conseguiu pegar e o pai mandou para o rapaz
que pediu a esmola. Thiago finalmente chega! Ufa! Até pra mim que estou
escrevendo este texto demorou demais para saciar a fome do rapaz.
Já estamos
na hora do almoço, em alguns lugares já passou da hora! O rapaz franzino, cujo
nome não sabemos estende a mão, faz o sinal da cruz em alusão à sua
espiritualidade, agradecendo a Deus e posteriormente agradece ao garoto. E sem
mais, nada mais, procura um local onde a sombra é maior, para se esconder de
forma mais apropriada do sol e comer seu almoço na calma. Não teve nem uma água
ou um suco para ajudar a descer melhor a comida, porém isso, neste momento, não
foi o mais importante.
Thiago
fecha a porta antes disso e entra em casa, ainda ouve seu Arthur falar: Se a
gente for dar comida a todo mundo que vem aqui em casa pedir esmolas quem vai
ficar sem comer nada é a gente! Todo dia são dois, três.
Esse
rapaz, cujo nome ainda não se sabe, se junta a tantas outras pessoas que no
Brasil estão passando por sérias dificuldades na sua vida. Parte disso devido a
crise internacional do capitalismo, outra parte devido ao forte avanço do
coronavírus na sociedade e mais uma parte, porém não menor, da incompetência do
governo brasileiro no enfrentamento da covid-19. Desses o mais assustador é como o presidente, seus ministros e a falta de rumo de gestão estão descoordenados no país.
Segundo
dados de uma pesquisa realizada pela Rede de Pesquisa e Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional: 117 milhões de brasileiros não se alimentam como
deveriam; desses, 43 milhões não contavam com alimentos em quantidade suficiente;
19,1 milhões estão passando forme. São dados assustadores!
Agora
pensa bem, analisa, de forma aleatória mesmo, só a partir da sua vivência de
vida, o número de pessoas que tem batido na porta da sua casa para pedir
comida, ou as dificuldades que você mesmo pode estar passando ou a quantidade
de pessoas nos centros em situação de rua. Tudo isso aumentou, concorda?
Ah,
e o rapaz franzino, que estava pedindo comida na casa da Dona Luiza, do Seu
Arthur, dos garotos Thiago e Joana, tem por nome João. Pode ser o João da dor, João
da esperança ou o João que gera empatia. Cabe a nós não aceitarmos tudo isso de
forma tranquila e submissa. Precisamos
ter empatia pelas dores das pessoas e essa empatia passa pelo nosso dever de
reivindicar por condições de vida melhores e sermos solidários.
Por André Fidelis
Pedagogo e Comunicador Popular
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