A Luta Incansável de Mirtes Renata por Justiça para Miguel
Por Adriana Silva, integrante do Coletivo Força Tururu
Nesta data — 2 de junho — completam-se cinco anos de uma tragédia que ainda
fere a memória do Brasil: a morte do menino Miguel Otávio, de apenas 5 anos,
vítima de negligência e abandono. Um caso que escancarou, mais uma vez, o
racismo estrutural, os privilégios da elite e a lentidão do sistema judiciário
brasileiro.
No fatídico dia de 2020, em plena pandemia,
Miguel foi deixado sozinho pela então patroa de sua mãe, Sarí Corte Real, na
porta de um elevador no 9º andar de um edifício de luxo no Recife. A criança
caiu do prédio e morreu. Um ato de total irresponsabilidade e desumanidade, que
configura abandono de incapaz com resultado morte. Sarí, no entanto, segue em
liberdade, cursando medicina, como se nada tivesse acontecido. A justiça, mais
uma vez, falha quando o réu pertence à elite.
Enquanto isso, Mirtes Renata, mãe de Miguel e
ex-empregada doméstica de Sarí, sofre diariamente com a ausência do filho. A
dor dessa mãe é imensurável. Perder um filho de forma tão brutal, em um
contexto de desigualdade social e racial gritante, é uma violência que não se
pode aceitar calado. E é por isso que seguimos com ela, nas ruas, nos atos, nas
redes, gritando: Justiça por Miguel!
Mirtes não está sozinha. Sua dor é a dor de
milhares de outras mães negras que perdem seus filhos para a violência
institucional — seja pelas mãos da polícia, das milícias ou pelo abandono do
Estado. Sua luta é coletiva. É por todas as mães periféricas, negras,
trabalhadoras, que enfrentam diariamente a invisibilidade e a indiferença da
sociedade.
O caso de Miguel deveria ter sido resolvido
com a devida celeridade e seriedade, mas o que vimos foi uma justiça morosa,
seletiva e elitista. O fato de a acusada ser uma mulher branca, rica e
influente fala muito sobre o tratamento diferenciado que ela recebeu — o mesmo
tratamento que a grande maioria da população negra jamais teria.
Como coletivo de comunicação popular, nós, do
Coletivo Força Tururu, nosso papel é ecoar essa dor e essa luta. É continuar
produzindo conteúdo sobre o caso, entrevistando Mirtes, compartilhando nas
redes sociais, acompanhando audiências, pressionando as autoridades e levando
esse grito às rádios, TVs e todos os canais possíveis. Porque não é só por Miguel — é por todas as crianças
negras que ainda podemos salvar.
O Brasil não pode continuar normalizando a impunidade.
Não podemos permitir que a dor de Mirtes seja silenciada, abafada ou esquecida.
Perdemos Miguel em um momento em que o mundo inteiro dizia: "fique em
casa". E Mirtes, como tantas outras mulheres negras, estava trabalhando
para garantir o conforto de uma família rica — que sequer foi capaz de proteger
a vida de seu filho.
Até
quando o povo preto vai morrer nesta sociedade racista? Até quando assistiremos
casos como este sem respostas?
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