Coletivo Força Tururu

  Hoje, ao chegar da escola, minha filha de 5 anos, compartilhou comigo, animada, que teve uma atividade com um “homem do bombeiro” na escola. Segundo ela, o bombeiro falou sobre uma possível visita da turma ao quartel dos bombeiros e contou que os alunos poderiam ter uma experiência direta com animais, entre eles, uma cobra. Durante a explicação, o bombeiro teria olhado diretamente para minha filha que usa uma bandana de cor laranja e o cabelo com um belo penteado black power , e dito que colocaria a cobra “no cabelo dela”. Ela contou isso rindo, sem entender totalmente o peso da fala. Mas, como pai, senti imediatamente o incômodo . Respirei fundo e iniciei um diálogo com minha filha, com todo o carinho e responsabilidade que carrego como pai e como homem negro. Expliquei a ela que a fala do bombeiro, embora disfarçada de brincadeira, foi racista. Fazer associação direta entre seu cabelo, símbolo de identidade, resistência e beleza com um ninho de cobras não é algo inocente...

  Em 2020, tínhamos em mãos um recurso remanescente de um projeto e queríamos fazer algo inovador, ousar, criar algo que nunca havíamos feito antes. Diversas propostas foram colocadas na mesa de debates e, por uma tarde inteira, discutimos quais caminhos seguir. O mais importante era que a iniciativa envolvesse as comunidades. Foi então que, em meio às ideias, uma das integrantes teve um estalo e sugeriu a criação de um prêmio, lançado por meio de edital, voltado para o fortalecimento de mulheres periféricas que cantam e compõem músicas com temáticas relacionadas aos Direitos Humanos. Assim nasceu o Canta pra Vida . A primeira edição, ainda em 2020, teve como vencedora Gessica Beda , da comunidade da Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife, com a música "Marielle: quem matou, quem mandou matar?" – https://www.youtube.com/watch?v=qIniGnxWC8M . O vídeo foi inteiramente gravado na comunidade, com a participação de muitas amigas da artista. A premiação do Canta pra Vida ...