COBERTURA DOS PROGRAMAS POLICIALESCOS DE TV NAS COMUNIDADES



Os programas policialescos de TV, aqueles onde a maioria dos apresentadores são homens, brancos, defensores do jargão “bandido bom é bandido morto” que condena e executa a pena sob o suspeito que aparece na cena do suposto crime ou à alguém que tenha sido assassinado, sem nem sequer o caso tenha passado por apenas uma instância da justiça, causam um desserviço a opinião pública e contribuem para a estigmatização das comunidades pobres.
As características desses programas são bem similares e variam em pouca coisa de estado para estado, possuem roteiro simples, jornalismo de baixíssima qualidade e de investigação pífia e passam a dilacerar ódio com o argumento de que são livres e que qualquer tipo de ato incisivo em suas matéria qualifica censura, e, portanto, inibindo-os de exercer seu “papel” de propagar informação (em muitos casos mentirosas e rasas, diga-se de passagem).
        Ao que se sabe, várias denúncias são feitas constantemente à esse tipo de jornalismo(jornalixo), por quem entende que a profissão deve ser feita com responsabilidade e alinhada ao discurso dos Direitos Humanos, preservando o direito de respostas às pessoas e não expor na mídia de forma sensacionalista, através de violações estereotipadas e preconceituosas do povo, sobretudo do povo pobre. As denúncias à este tipo de jornalismo policialesco são instrumentos legítimos previsto em lei para garantir a inviolabilidade do cidadão e da cidadã, submetido a qualquer hipótese de crime ou suspeita de crime que são expostas de forma desrespeitosas e covardes na imprensa para gerar audiência a qualquer custo.
O Coletivo Força Tururu, em 2013, aplicou uma pesquisa em duas escolas públicas do bairro, onde se queria aferir a força que possuía os meios de comunicação que estão em sintonia a esses programas policialescos exibidos principalmente no horário de almoço, na televisão. A grande maioria dos jovens entrevistados pautaram duas situações que é importante serem abordadas aqui: a primeira é que eles entendem que esses programas são importantes porque mostram a “verdade” do que está ocorrendo no Brasil; e o segundo ponto é que não seria interessante acabar com esses programas porque muitas pessoas seriam demitidas.
        Mesmo na condição de suspeitos, ai analisando a partir do imaginário que criam esses programas policialescos, de jovens, negros e pobres são sempre muito perigosos, esses estudantes das duas escolas tendem a se preocupar com o próximo, quando abordam a importância de manter os empregos de quem os o oprime, mesmo que esses mintam e descontextualizem as pessoas. E a segunda análise é que o poder desses programas são tão fortes que os estudantes passam a enxergá-los a partir do senso comum, de que quem tem o poder da comunicação, também tem o poder de passar a “verdade” as pessoas. Mas porque o povo se identifica tanto com esse tipo de jornalismo policialesco?
        A resposta não é tão difícil de se dar, porém a construção de violação e descontextualização do ser humano é bastante complexo. Numa reportagem onde eles vão fazer em alguma comunidade que teve um jovem assassinado, por exemplo, costumam já trazer alguns roteiros de linguagem pré-estabelecida, mudando-se uma ou outra coisa aqui ou acolá, vejamos como é este roteiro:


Um jovem aparentemente de 22 anos, foi alvejado por dois meliantes em um moto. Populares dizem que Marcolino Fulano da Silva (o rapaz assassinado) era usuário de drogas e ex-presidiário (pronto! Sacramentou a reportagem, é como quem diz: esse aí mereceu morrer) não conseguimos mais informações porque impera na comunidade a lei do silêncio, o corpo já se encontra no Instituto Médico Legal.


        Uma linha jornalística tão frágil, que obtém uma mesmice “roteiral” e que dá muita audiência, por alguns fatos: as pessoas passam a se identificar com a matéria, isso porque, mesmo que ela tenha sido desenhada em um roteiro negativo, mas as pessoas, de uma forma ou outra irão se enxergar nela, pois o jovem que morreu elas conhecem, as ruas das comunidades elas conhecem, o povo que vai lá olhar o jovem morto, todos conhecem e as pessoas que mataram também são conhecidos, portanto o jornalismo policialesco infligidor de nossos direitos, cria um ambiente favorável para suas matérias sensacionalistas e cruéis sobretudo com o povo, gerando audiência a partir da identificação com as pessoas mesmo que essa seja verticalizada ao campo do negativo, do simplismo, da desvalorização das pessoas.
        O mais importante a ser abordado neste texto é que em nenhum momento ele alimentará o fim de programas com características investigativas, mas sim que passem a fazer seus registros jornalísticos definitivamente respeitando as leis e os indivíduos, se aprofundando em matérias e não tornando-as sempre superficiais, dando amplo direito de resposta, não só cabendo o direito da informação à polícia e que faça um amplo debate de como as pessoas, de fato, querem ser vistas nesses programas retirando a carga tendenciosa das matérias, que pendem propositadamente a já irem aos locais com conceitos pré-estabelecidos e forjam uma linha jornalística participativa, quando, de fato, de participativo não há absolutamente nada.
        Um exemplo bem simples de que as pessoas na verdade se identificam com a matéria muito mais por se verem nelas do que, pelo que de fato representam, é que quando o Coletivo Força Tururu elabora os seus vídeos, onde a participação da comunidade é efetiva gera uma empatia muito forte, pois o povo quer ter direito a voz e vez e os meios de comunicação são uma fonte importantíssima disso.  Investigar mais esse campo, escutar mais o povo, construir matérias e momentos onde eles possam se expressar e contar fatos de suas vidas que sejam mostrados por uma ótica positiva que contribua para a melhoria de vida das pessoas, ajuda a retirar os estigmas impetrados pela mídia e por esse jornalismo de baixa qualidade que contribuiu e contribui com a marginalização das favelas no Brasil, sobretudo pela constante descontextualização dessas matérias discriminatórias e irresponsáveis.
Por Coletivo Força Tururu
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