ENTREVISTA com Mari Barreto: Ativismo e meio ambiente



Um papo sobre meio ambiente, a Cidade do Paulista - PE e ativismo político, essa foi a principal marca da conversa com Mari Barreto, 25 anos, que milita na área ambiental, graduanda em Engenharia Florestal. Ela enxerga vários problemas que podem ser resolvidos a partir da coletividade e da inserção de todos, num grande levante popular de conscientização da população e melhoria da qualidade de vida na cidade. O resto da conversa, achamos que é melhor ela mesma contar na entrevista.


Coletivo Tururu: Como você se tornou uma ativista ambiental?


Mari Barreto: Sempre me identifiquei muito com a natureza, desde pequena, mas comecei a tomar ciência realmente na adolescência durante o ensino médio, estudando no Ginásio Pernambucano e militando no grêmio estudantil. Quando conclui o Ensino médio prestei vestibular e a 1º opção Direito, 2º Opção oceanografia, passei em oceanografia mas não entrei, nesse meio tempo conheci o curso técnico em meio ambiente, adorei a grade logo de cara, me matriculei, cursei 2 anos, conclui o curso e durante essa fase conheci várias pessoas que já tinham uma grande bagagem na área ambiental. O curso técnico foi um divisor de águas na minha vida acadêmica, profissional, política e pessoal.

Nesse tempo, pude construir e desenvolver meus próprios valores e descobrir a consciência ambiental através do conhecimento. Estagiei no setor privado (construtoras) e no setor público (Compesa), escrevi um artigo (inclusive a área de estudo foi o janga, bairro da Cidade do Paulista onde está localizado o Coletivo Força Tururu) e no final do curso conheci uma professora maravilhosa que me orientou divinamente, Maria Regina Beltrão, foi então que ela me apresentou o curso de engenharia florestal dizendo que era minha cara, fui pesquisar sobre o curso e me apaixonei. 

Antes mesmo de terminar o Técnico fiz o ENEM 1º e 2º opção engenharia florestal (risos), passei e entrei na UFRPE - “RuraLinda”. Todo esse processo me ajudou a me tornar uma ativista ambiental, minha trajetória acadêmica sempre esteve paralela a militância no movimento estudantil, tanto é que entrei no Diretório Acadêmico no 1º período, hoje no 7º , estou como Presidenta do D.A e Diretora de Meio Ambiente da União da Juventude Socialista, do Município do Paulista-PE. O que muito curioso, pois lá atrás quando ainda era do grêmio do GP em 2009/2010, o que mais me motivou a entrar na luta ambiental foi o descaso da gestão política-partidária do lugar onde eu morava (Janga, Paulista - PE) e desse sentimento se deu tudo que já mencionei anteriormente. Nesse sentido posso afirmar que eu não só me tornei uma ativista ambiental, eu me formo diariamente como ativista ambiental, é uma luta diária e constante.




Coletivo Tururu: Quais os principais desafios que encontra?


Mari Barreto: É até difícil listar, esse debate está sendo cada vez mais presente nos espaços, seja na escola, na universidade, na comunidade, nos ônibus, na mesa do bar, no entanto ainda é algo “muito verde”, mas o assunto é seríssimo. Para a velocidade que a globalização e o “Desenvolvimento” avança, o debate e principalmente a prática das políticas ambientais ainda estão a passos de tartaruga em extinção. Por isso, mesmo que embora a aplicação das políticas públicas ambientais ainda seja um desafio enorme, maior ainda é a prática da educação ambiental individual e coletiva, por consequência da deficiência de investimento público em Educação Ambiental. Por isso, o principal desafio enfrentado por mim nessa luta foi a falta de apoio concreto por parte do poder público, tornando o processo de mobilização e realização das atividades cada vez mais difícil, mas isso está mudando, pois com o tempo percebemos que o maior e mais poderoso público, é o povo unido.



Coletivo Tururu: Como você vê a variedade do ecossistema de nossa cidade (Paulista-PE)?


Mari Barreto: Paulista-PE é uma cidade abençoada pela natureza, quando era apenas um distrito de Olinda, possuía poucas edificações e muita área natural, no entanto sua vegetação foi sendo substituída pela cana de açúcar e o coco. Hoje em dia isso ocorre pela implantação de loteamentos, extração de madeira e retirada de terra. 

Os remanescentes de mata atlântica de paulista ocorrem mais expressivamente na Mata do Janga, Jaguarana, consideradas florestas urbanas, recategorizadas pela Lei Estadual nº 14.324/11 e a Reserva Ecológica de Caetés, todas criadas pela Lei nº 9.989 de 13 de

janeiro de 1987, no entanto apenas Caetés foi implantada e sofreu mudança pela Lei Estadual nº 11.622/98, transformando-se em Estação Ecológica. Me dói muito ver a Mata do Janga sofrendo fortes impactos antrópicos e não ter uma gestão que saiba manejar seus

recurso e conservar a vida da floresta, floresta essa tão importante não só para o bairro mais para todo o município, na verdade vai além do município do Paulista a importância dessa mata, tendo em vista que suas copas tornam-se (ou deveriam) ciliar do Rio Paratibe, rio que banha a cidade, assim como, outros municípios da Região Metropolitana do Recife (RMR). 

Já que o assunto é mata atlântica, rio Paratibe, Janga, não posso deixar de mencionar a vasta área de manguezal, ecossistema importantíssimo para o equilíbrio ecológico, não só da mata e da cidade mas também do ecossistema marinho, ou seja, a degradação dos manguezais da Cidade do Paulista-PE desencadeia uma série de prejuízos ambientais e sociais para a cidade e para o planeta. Ainda na Planície Costeira, a ocupação urbana tomou o lugar da vegetação de praia, representada por espécies herbáceas.

E por último mas, não menos importante, a Apa do Estuário do Rio Timbó, com 1.397 hectares formado pelos rios Timbó e Arroio Desterro foi considerado como um dos estuários mais férteis do litoral norte de Pernambuco, cuja fauna se destacava pela diversidade de espécies de alto valor comercial, segundo o documento de Proteção das Áreas Estuarinas, elaborado pela Fundação de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife - Fidem. Esse importante ecossistema também sem gestão no município, sofreu muitos impactos antrópicos, seja em pequena escala pela extração ilegal de madeira, areia e fauna, como também em grande escala com a indústria de cimento que atuava fortemente nos arredores da unidade. 

Muitas vezes parece um buraco sem fim, uma caminhada em círculos, mas na verdade essa impressão se faz tão presente na luta ambiental porque direta ou indiretamente tudo está interligado, natureza, humanidade e política ambiental, social e econômica. Não dá para fazer uma educação ambiental e conservar nossos recursos naturais sem políticas públicas eficazes, que dialogue com a sociedade e que ponha em primeiro plano a conservação ao invés do lucro.

Posso dizer que com os mangues, matas, rios e o mar da cidade não há nenhum problema, mas sim com a falta de manejo adequado desses ecossistemas. Essa deficiência é que provoca a degradação das nossas matas, poluição e assoreamento dos rios, destruição do manguezal e forte impacto social e ambiental na costa.


Coletivo Tururu: Hoje você está inserida em que movimento, coletivo?

Mari Barreto: Hoje estou presidente do Diretório Acadêmico de Engenharia Florestal da

UFRPE, participo do DCE da UFRPE, participo do coletivo jovem de meio ambiente do Recife criado através da emenda parlamentar da Deputada Luciana Santos por meio da Secretaria de Desenvolvimento sustentável e meio ambiente do Recife. Há alguns meses fiquei com a responsabilidade de movimentar a Diretoria de meio ambiente da União da Juventude Socialista da Cidade do Paulista, no entanto, esta última é a missão mais difícil de cumprir, pois a cidade precisa de uma formação ambiental mais complexa diferente do

recife que já tem muitos coletivos mobilizados. Atualmente é o maior desafio e aproveitando a oportunidade, já reintegro a necessidade de mais atores ambientais na cidade.


Coletivo Tururu: Existe algum grupo ativista que trabalha a questão do meio 
ambiente na cidade do paulista? Se sim, como atuam?


Mari Barreto: Fora a UJS, participei de atividades juntamente com um grupo de moradores

de Jardim Paulista Baixo (outro bairro da cidade do Paulista) no rio Paratibe, inclusive dia 15/04 tem mutirão de limpeza no rio da mata e sintam-se convidados. Além desse grupo, também tive a oportunidade de participar dos mutirões de limpeza na praia do Janga, também com um grupo de jovens moradores, ambos com foco nos resíduos sólidos. Embora essas atividades pontuais sejam muito importantes, ainda se faz necessária a criação de um coletivo jovem de meio ambiente onde inicialmente ocorram aulas de formação básica em meio ambiente, seguidas de práticas na cidade, assim como acontece em Recife.

Além da movimentação popular o poder público tem que fazer a parte dele e atuar na formação de novos jovens ambientalistas.




Coletivo Tururu: O que você espera dos nossos governantes com relação ao Meio Ambiente, quais medidas precisam ser tomadas?

Mari Barreto: Nossa, a lista é enorme. Mas sendo sucinta, o mínimo que eu espero das

lideranças políticas e representantes do povo é a RESPONSABILIDADE com nosso solo, nossas florestas, nossas águas, nossa fauna, NOSSA, da população e não um produto de troca para servir a gestão A ou B.

A utilização das políticas públicas ambientais também precisam ser manejadas com responsabilidade, não só em paulista, mas como a cidade está independente do licenciamento a pouco tempo acredito que ainda dê tempo de manter organizada e responsável a liberação de licenças e também a realização das compensações. Assim espero.

Aproveitando a oportunidade, uma coisa que sempre quis fazer em Paulista mais nunca recebi incentivo é um viveiro municipal, onde sejam produzidas mudas florestais para suprir a arborização urbana da cidade e doar mudas para os munícipes.

Outra medida que com certeza seria uma transformação na cidade, principalmente para as praias seria a criação de um centro de educação ambiental, que através desse centro fossem articuladas atividades ambientais em toda a cidade. Caso me perguntassem onde seria esse centro, minha proposta era de fazer no terreno da antiga pizzaria do gordo na orla do Janga (local que já está ocioso). 

Por último, por hora, mas não menos importante. A real gestão da unidade de conservação estadual da mata do Janga. Sim é o Estado o responsável mas a gestão da cidade tem o dever de articular essas medidas tendo em vista que o estado não está pondo em prática, precisa ser cobrado pelo município, até porque é o município que vive com a realidade precária da falta de gestão da floresta urbana da mata do janga.


Coletivo Tururu: Quais são seus planos para o futuro?

Mari Barreto: Atualmente meus planos são me formar academicamente e profissionalmente. Tornar-me uma pessoa capacitada intelectualmente e politicamente para continuar colaborando com a sociedade cada vez mais e com mais eficiência.

Pretendo continuar militando pela União da Juventude Socialista durante os próximos 4 anos e independente de orientação partidária estarei sempre aberta ao diálogo com quem quer dialogar no campo da política, não gosto de ataques pessoais, nem discursos que deslegitime a luta de A ou B. Acredito que cada um milita na força e na causa que se sente mais acolhida, e como eu, muitos não são filiados a partidos políticos. No meu caso, simpatizo com determinadas vertentes, mas ainda não me sentir no momento de filiar.


Coletivo Tururu: Deixe um recado para as pessoas que irão ler essa entrevista.

Mari Barreto: A todas e todos que acompanham o Coletivo Força Tururu, expresso minha

admiração a esse grupo que conseguem transformar a comunidade que vivem e melhorar cada vez mais a vida dos jovens. É inspirada no CFT que deixo aqui meu recado para todos os jovens da cidade do Paulista: se envolvam, se articulem, procurem atuar na sua escola, no seu bairro, na sua cidade. Caso não saibam como, entrem em contato com grupos já organizados que naturalmente vocês irão conhecer outras pessoas com interesse comum. Caso alguém queira saber mais, ou tirar alguma dúvida podem entrar em contato comigo pelo facebook: MARI BARRETO, estou à disposição para colaborar com o que eu puder para a formação de nossos atores ambientais na nossa linda paulista.



Agradecemos de coração a oportunidade de entrevistar Mari e esperamos que as contribuições que ela deu aqui sirvam de semente para a luta de muita gente.


Quer acompanhar mais sobre o Coletivo Força Tururu? Então acessa:










Whatsapp: (81) 99727-4870

Comentários

  1. você é uma maravilhosa ambientalista saiba que tenho muito orgulho de você Mari não esqueça que sempre terá meu apoio em qualquer relação de sua vida.

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