ENTREVISTA CULTURAL com Patrícia Cruz: cantora e moradora da Cidade do Paulista (PE)

Patrícia Cruz, cantora popular de forró e frevo genuíno há 18 anos, formada em letras e pós graduada em linguística, moradora da Cidade do Paulista (PE), guardou um pouquinho do seu tempo para nos conceder essa belíssima entrevista que vale a pena ser lida.

Coletivo Tururu: Nesses anos todos de carreira o que de mais especial você tem para nos contar?

Patrícia Cruz: (Risos)... São 20 anos de dias especiais. Começando pelo fato de ter deixado a sala de aula e tudo mais pra me dedicar por completo a Cultura Popular, perpassando pela honra que foi conviver artisticamente com figuras como Arlindo dos Oito Baixos; Mestre Salustiano; Chiquinha Gonzaga (irmã do Rei Luiz) e tantos outros contemporâneos. Até os dias de hoje quando tive o privilégio de gravar 06 discos. Com participações especialíssimas de Dalva Torres; Paulo Diniz; Coco Raízes de Arcoverde e tantos outros.

Coletivo Tururu: Tem algum desses discos que é especial? Se sim, qual?

Patrícia Cruz: Tudo especial. Desde o primeiro que foi completamente amador até o mais recente chamado "DiAmoR" que é a resposta "de amor" a todos que convivi com suas respectivas poesias e, por ser de estilos diferentes, eu não via possibilidade em gravá-Los, a exemplo dos frevos de Bloco de J.Michilles e do de Romero Amorim que gravei com a presença do Acordeon.  Certamente existe quem cante mais ou menos que Eu, mas essa nunca foi minha preocupação. Sempre estive preocupada com o conteúdo do que está em mim e que eu posso dividir, e doar, e salvar, e curar nas pessoas. E é através do meu canto que encontrei esse caminho.

Coletivo Tururu: E sua relação com a cidade do Paulista, qual é?

Patrícia Cruz: Uma cidade linda...com nuances históricas que jamais pode ser colocadas de lado. Um comércio crescente e um povo antenado no que diz respeito ao crescimento da Cultura Popular. E no nosso litoral nasceu a ciranda de uma mulher guerreira cheia de sonhos culturais, Dona Duda. Aqui temos artistas reconhecidos nos links culturais como EDY Carlos, Cilene Araújo, Mestre Galo Preto, Arlindo Moita,  Cristina Amaral, amigos queridos a quem devoto respeito e admiração. Minha citação aqui é pobre, porque é numerosa a quantidade artística que possui, em qualidade, a cidade do Paulista. Uma vez um filósofo concluiu que "Uma Cidade, um país ou mesmo uma rua é a imagem viva da música que se revela" e isso me preocupa um pouco quando vejo, e tenho por experiência própria, artistas dessa rica cidade, exercendo seu cantar nas cidades vizinhas e sendo aqui esquecidos.

Coletivo Tururu: Você já se apresentou em Paulista? Como a cidade poderia investir mais em cultura?

Patrícia Cruz: Tive a alegria de receber das mãos do atual, presidente da Câmara de Paulista, Fábio Barros um linda homenagem dessa cidade e na ocasião cantei. Na verdade, o que sinto falta é de projetos coletivos que envolvam quem realmente tem história Cultural pra contar. Não devemos e podemos ser bairrista no que se refere à exclusão de nada nem de ninguém que promova qualidade a cidade, mas falo de priorizar, oportunizar, criar espaços dentro dos ciclos (Natal, São João, Carnaval); um calendário que proporcione com dignidade e reconhecimento financeiro tudo o que é  Cultural de Paulista.

Coletivo Tururu: Você acha que poderia contribuir mais com sua voz para a cidade do Paulista?

Patrícia Cruz: À disposição sempre estarei. Minha preocupação é pelo respeito à hierarquia. Somos aquilo que aprendemos e somos um pouco daqueles com quem aprendemos. Então jamais caberá no meu coração nem na minha história profissional, uma construção musical de sucesso por causa do meu canto apenas. Eu canto por outros cantaram antes de mim e porque por meio deles eu descobri que era possível cantar e levar adiante o que eu acredito que nada mais é o que estes antes de mim acreditavam. Salve a música popular nordestina brasileira sempre. Que Luiz Gonzaga do Nascimento viva na Zabumba do nosso amado Quartinha; que Dominguinhos esteja presente no Acordeon de Mestrinho; que Maciel Melo não desista; que Petrucio Amorim, Flávio Leandro, Buscapé e tantos outros não se calem; que Marinalva e Marines sejam encontradas em todo tempo no meu trabalho e na voz de outras mulheres como Irah Caldeira e Terezinha do Acordeon.

Coletivo Tururu: Vamos voltar a falar especificamente do seu trabalho. Qual trecho de uma música sua que você mais gosta?

Patrícia Cruz: Gravei muita gente linda!!! Gravei Petrucio Amorim, Romero Amorim, Paulo Diz, Miguel Marcondes e Luiz Homero, Flávio Leandro, Anchieta Dalli e muitos outros.

Mas acho que tem uma canção do poeta Luciano Nunes que me traduz e que amo muito. Ela se chama "A Felicidade"

" A felicidade não custa tanto não

Deixe que a simplicidade tome conta da razão...

Por isso por favor manere na ambição

Na trilha da maldade só cabe destruição

E NA ESTRADA DA VIDA É ASSIM

O QUE EU FAÇO PRA VOCÊ

UM DIA VOLTARÁ PRA MIM".

Coletivo Tururu: Quais os planos que você tem daqui pra frente?

Patrícia Cruz: Pergunta difícil, quando o país passa por um momento de tanta crueldade e malvadeza social, Cultural, humana etc...bem quanto ao meu trabalho, enquanto vida eu tiver estarei cantando o que aprendi e fazendo disso a melhor festa. Não pretendo ser fábrica de réplicas ruins (risos comedidos) vou reverenciando a Música Popular Brasileira de boa qualidade pelo mundo a fora...

Coletivo Tururu: Deixa um recado para as pessoas que irão ler essa entrevista

Patrícia Cruz: Primeiro gostaria de abraçar cada leitor e aos queridos que dirigem e "arrumam a casa" desse blog incrível, em especial ao admirável, André Fidélis; agradecer imensamente a cada um a paciência em está em comunhão com minhas palavras e até mesmo discordar delas. Somente pediria, nos ajudem a salvar alimentando a Cultura que um povo lá trás construiu e que é a imagem viva de nossa gente. Vamos salvar alimentando o Coco; a forró genuíno; nossas cirandas; o FREVO patrimônio imaterial da humanidade; as nossas danças; nossos cordéis; enfim, vamos trazer sempre pra junto de nós o que nós nunca poderá sair: NOSSAS TRADIÇÕES.

Porque é de Tradição Paz e LUZ o trabalho de PATRICIA CRUZ

Cheiro