ENTREVISTA COM NEYL SANTOS SOBRE O DIREITO E O PAPEL DO ADVOGADO




Entrevista com Neyl Santos, 28 anos, Advogado, militante dos diretos humanos. O papo que tivemos com ele foi sobre o papel da justiça, dos advogados e como as leis contribuem e afetam a população.
"Acho que o pensamento das carreiras jurídicas como um todo precisa avançar. Juízes, promotores, procuradores, servidores de uma maneira geral e até mesmo a advocacia precisa conhecer melhor a sociedade em que está inserida..."


Coletivo Força Tururu: Hoje quais são os principais desafios de um advogado?
Neyl Santos: Hoje um dos principais desafios do advogado, é o que chamamos de ativismo judicial, por meio do qual, os juízes acabam criando normas muitas vezes não previstas na lei e que geram precedentes sobre os quais, outros juízes vão basear suas decisões. Então a cada dia se torna mais difícil um advogado mostrar ao juiz que seu caso é diferente, que precisa de uma decisão diferente do precedente que foi estabelecido. 

Coletivo Força Tururu: Você acha que o judiciário é muito distante das pessoas mais simples?
Neyl Santos: Acho que o pensamento das carreiras jurídicas como um todo precisa avançar. Juízes, promotores, procuradores, servidores de uma maneira geral e até mesmo a advocacia precisa conhecer melhor a sociedade em que está inserida, marcada por profundas desigualdades e que exigem daqueles que trabalham com a lei tratamento diferenciado.

Coletivo Força Tururu: O mesmo judiciário que julga o rico é o mesmo que julga o pobre?
Neyl Santos: Em tese sim. Mas o problema também é da qualidade da defesa.

Coletivo Força Tururu: Na sua opinião que papel cumpre a Defensoria pública hoje?
Neyl Santos: Num país em que historicamente os cursos de direito foram reservados para uma pequena elite e que, a profissão do advogado é cercada de todo um rito que não frequenta certos ambientes, a defensoria pública tem papel fundamental para aqueles que não podem pagar por um advogado particular. O problema da defensoria, e os que lá trabalham poderiam falar melhor, é a falta de estrutura para sua demanda. Se o judiciário já está sobrecarregado, a quadro na defensoria é muito pior.


Coletivo Força Tururu: Dá para ser hoje um militante do direito penal? Como você avalia isso?
Neyl Santos: Um dos principais problemas de atuar na área penal é a criminalização da profissão. Todos têm direito a uma defesa técnica e qualificada e essa missão cumpre aos advogados, mas muitas vezes são esse papel não é entendido, não é respeitado, e os profissionais são condenados pela opinião pública pelo simples fato de trabalharem. Talvez porque todo mundo acha que nunca será ele o acusado.

Coletivo Força Tururu: Como você se vê daqui há 10 anos?
Neyl Santos: Espero que trabalhando. 

Coletivo Força Tururu: E qual a relação disso com as causas populares?
Neyl Santos: Acredito que todo mundo tem uma responsabilidade com a coletividade. Por exemplo, todo aquele que se forma num curso superior numa faculdade pública, ou numa privada através de programas como o ProUni, precisam dar uma contrapartida à sociedade, precisam fazer com que outros tenham as mesmas chances ou no mínimo colocar seu oficio à disposição dos que não conseguem chegar no Estado. Coletivamente existem muitas demandas que precisam de apoio jurídico e acho que eu me insiro numa nova geração de advogados e advogadas antenadas e com disposição. Vamos vendo, não costumo fazer projetos a longo prazo, mas é algo que está sim nos meus planos.

Coletivo Força Tururu: Deixe um recado para os leitores do nosso blog.
Neyl Santos: Primeiro que sempre e em qualquer situação se veja como sujeito de direitos. Para cada obrigação existe um direito, e precisamos nos apropriar desses direitos que a lei nos dá. Que procurem meios alternativos de solução de conflitos, mas que, não tenham medo de procurar o judiciário para ver respeitados os seus direitos. A justiça pode demorar (e na maioria das vezes demora), mas não pode ser motivo para que injustiças se tornem algo natural.



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