ENTREVISTA COM O AMBIENTALISTA HERBERT ANDRADE

 


Gestor Ambiental, especialista em manejo de animais silvestres. Nosso entrevistado é Herbert Andrade, 35 anos, ambientalista, morador da cidade de Paulista, na região metropolitana do Recife.

Herbert nas suas redes sociais tem se posicionado sobre as questões ambientais, sobretudo na cidade, já participou da gestão municipal do último prefeito, Júnior Matuto, e hoje é filiado ao Partido dos Trabalhadores, inclusive é secretário de meio ambiente.

Uma conversa diversa, de posicionamentos e respeito às lutas sociais.

 

Coletivo Tururu: A gente vê nas redes sociais e na prática também seu ativismo em defesa do meio ambiente, como começou tudo isso?

Herbert Andrade: Na verdade desde criança sempre fui muito sensível às questões da natureza e com o tempo fui criando uma consciência e percebi que as pessoas não valorizavam e não tinham ideia de que somos parte do Meio Ambiente.

A cultura do capital tenta ludibriar que progresso não combina com preservação, isso me inquietou e resolvi me especializar e lutar para mudar esse panorama.

 

Coletivo Tururu: Nosso papo aqui hoje é sobre ativismo, meio ambiente e política. Daí se você fosse apontar três grandes injustiças no mundo, quais seriam?

Herbert Andrade: Desigualdade social (que inclui falta de saneamento básico, desigualdade alimentar, precariedade na saúde, déficit habitacional, etc) Racismo, desigualdade educacional.

Já a partir dos primeiros debates sobre meio ambiente, na década de 70, a desigualdade já era colocada como questão fundamental. O fenômeno da destruição ambiental que continua a ocorrer em todo mundo, anda de mãos dadas com a desigualdade social e com a pobreza.

As populações mais pobres são as mais afetadas pela produção destrutiva do atual desenvolvimento capitalista. E essa questão se revela de várias formas: na falta de saneamento básico, ausência de água potável, crise dos alimentos, falta de habitação, o que causa o fator da população pobre habitar áreas de maior risco.

Contudo, o combate à desigualdade social depende também da conservação do meio ambiente.

O direcionamento de ambos os problemas dependem de novas relações éticas, políticas e econômicas, que se desenvolva no âmbito da construção de uma nova sociabilidade, para além do domínio absoluto atual dos interesses do capital.

A política ambiental não pode ser considerada uma política supérflua, precisa estar em consonância às construções de outras políticas.


 


Coletivo Tururu: Quais foram as suas maiores experiências profissionais ou de militância? Fala um pouquinho aí pra gente sobre isso.

Herbert Andrade: Então... Trabalho desde os 17 anos: fui porteiro, vigilante, representante comercial, e quando ingressei na faculdade abriram-se os flancos na área que eu amo e milito.

Passei por um estágio no zoo, que me fez ver e refletir muito sobre o modelo explorador do zoológico.

Fui durante 7 anos, servidor da secretaria municipal de Meio Ambiente, isso fez com que eu entendesse ainda mais a necessidade da valorização das políticas ambientais, já que o próprio poder público tratava/trata como algo irrelevante.

Especializei-me na conservação das tartarugas marinhas, passei a integrar a Ecoassociados e através disso, busquei atuar fortemente pela conservação das áreas costeiras.

E nas lutas, conheci o Instituto Meu Mundo Mais Verde, que era um coletivo na época, somos ativistas, pelo meio ambiente e educação ambiental e buscamos, sempre ecoar a voz pela justiça socioambiental.

Passei a presidir o Fórum Ambientalista de Pernambuco, e hoje estamos a cada dia fortalecendo a luta de muitos companheiros que vivem na invisibilidade, a exemplo dos catadores e catadoras de recicláveis, pescadores, marisqueiras, agricultores e agricultoras familiares e etc.

 

Coletivo Tururu: Qual sua opinião sobre a política ambiental de Paulista?

Herbert Andrade: Paulista é uma cidade incrível em termos de potencial ambiental.

Porém, desde sua origem, com a indústria têxtil em uma época, onde não existiam leis trabalhistas, a cidade foi explorada, inclusive o mito que remete a "cidade dos eucaliptos" foi criado através dos desmatamentos promovidos pelas antigas fábricas para alimentarem suas caldeiras, desmatavam e replantavam eucalipto, que tem o crescimento rápido e poderia ser utilizada como lenha.

O eucalipto não é uma árvore nativa.

Pois bem, a cultura de Preservação por muitos anos não foi a prioridade na cidade, muita coisa se desenvolveu sem um controle e o pensamento no que poderia degradar.

Hoje, a política ambiental da cidade, esbarra em um plano diretor que não favorece a preservação, que não respeita as áreas de amortecimento e expõe as unidades de conservação à pressão urbana.

Nos últimos anos, enquanto pude estar no poder público, lutei pela mudança de concepção, aproximei os movimentos ambientais, mas, o sistema é bruto, a luta é diária, a desconstrução de que não fazemos parte do meio é contínua.

Temos, muito a evoluir, as periferias de nossa cidade sofre com a falta de saneamento básico e ambiental, sofre com a falta da atuação do poder público para melhorar a vida, representando os problemas sociais de cada comunidade, não se faz uma cidade sustentável sem orçamento participativo.

Notamos que a cada dia, o poder público se distancia das questões ambientais, abandona a sua população e por isso é tão importante e necessária a atuação dos movimentos sociais e ambientais.

 



Coletivo Tururu: Há alguma diferença entre a gestão Junior Matuto e Yves Ribeiro(atual prefeito) neste quesito?

 

Herbert Andrade: As duas gestões têm problemas estruturais e de falta de valorização da pauta ambiental.

Porém, na gestão de Júnior Matuto, a estruturação de pessoal técnico era muito melhor, foi criada a secretaria que até 2013, não existia e realizado concurso público, o que trouxe um aparato técnico muito bom.

O que pesa na atual gestão do prefeito Yves Ribeiro, é exatamente o despreparo técnico de quem está nas coordenações, nas cadeiras de secretários e diretorias, além de não serem técnicos da área, não serem experientes, distanciam o poder público dos movimentos e da população e assim comentem erros amadores.

Mas, independente das duas gestões, a política ambiental do Paulista por parte do poder público é muito distante do ideal, ainda se comporta com o arcadismo de que progresso se faz com concreto.

 

Coletivo Tururu: Nesses últimos dias vários ambientalistas na cidade gritaram com relação a um suposto crime ambiental cometido pela Prefeitura de Paulista com a destruição de uma área de restinga na praia do Janga, você foi uma das pessoas que ferrenhamente se pronunciou sobre isso. Poderia trazer sobre o que na verdade isso se trata?

Herbert Andrade: Nós temos em Paulista uma concepção de praia que nos permite o privilégio de ainda ter uma qualidade para ter uma vegetação tão importante.

A restinga é uma vegetação do bioma de mata atlântica, que compõe essa transição entre mar e terra.

É um ecosistema que comporta muitas espécies, a exemplo das corujas buraqueiras, que constroem seus ninhos nessas áreas, muitas espécies de pássaros, lagartos e é a área mais propícia para a desova das tartarugas marinhas.

Pois bem, a restinga é protegida pela lei 11428/06 da mata atlântica, sua erradicação é proibida, salvo o que for determinado na lei.

O que aconteceu é que de maneira totalmente arbitrária, sem a apresentação do exigido estudo de impacto ambiental, sem a consulta via pedido de licenciamento aos órgãos que detém a jurisdição de áreas costeiras que no caso é a CPRH do estado e a Superintendência de Patrimônio da União (SPU) da união, a prefeitura erradicou toda a área, com uso de máquinas pesadas, sem a mínima preocupação ou respeito aos ninhos de corujas e quero-quero lá presentes, sem o mínimo respeito a população.

Para agradar a um pedido eleitoreiro de um servidor comissionado, cargo político que compõe o quadro da instituição pública.

Afirmo isso, porque temos o vídeo desse servidor no local, no dia do ocorrido, agradecendo a alguns secretários pelo "serviço prestado". Esse vídeo foi incluído na denúncia.

 


Coletivo Tururu: Conversamos com muitas pessoas e há um sentimento muito grande por parte dos moradores na cidade de que os governos municipais, com muita intensidade na gestão Matuto e dando continuidade na gestão Yves Ribeiro, de forma intencional e deliberada por parte deles facilitam a destruição das matas para construção de empreendimentos imobiliários ou industriais. Você concorda com isso? Como vê essa questão?

Herbert Andrade: É exatamente onde entra o danoso plano diretor.

Plano feito exatamente para favorecer a destruição de áreas que deveriam ser preservadas.

O plano deveria ser agregador e não excludente e em algumas áreas, higienista.

Como havia dito as gestões não têm a veia conservacionista e com um plano feito sem a discussão popular, sem a composição e contribuição dos movimentos, teremos sempre o favorecimento de empreiteiras, e sem a mínima exigência de postura sustentável.

É evidente, que uma cidade com 10 unidades de conservação, era para ter por obrigação um IPTU Verde, e uma linha de crédito remetido a empreendimentos que respeitem a natureza.

Precisamos cobrar a urgente revisão do plano.

 

Coletivo Tururu: E falando de Brasil, como está a política ambiental do governo Bolsonaro?

Herbert Andrade: Um total desastre, algo tão sombrio que assusta.

A política ambiental do governo Bolsonaro é associada às ameaças aos acordos mundiais de preservação, críticas infundadas aos programas de conservação, ecocídio, favorecimento da grilagem, perseguição aos povos indígenas, para liberar suas terras para o agronegócio e desaparelhagem dos órgãos fiscalizadores.

Dados do INPE de 2019, no primeiro ano de desgoverno, já apontava aumento de 88% no desmatamento da Amazônia, algo tão surreal, que é inacreditável que ele não tenha respondido criminalmente por isso imediatamente.

Bolsonaro cometeu o absurdo de transferir o Serviço Florestal Brasileiro do Ministério do Meio Ambiente para o Ministério da Agricultura. Para flexibilizar as multas por crimes ambientais. Extinguiu o Fundo bilionário da Amazônia, que financiava centenas de projetos de proteção da Floresta.

Perseguiu fiscais ambientais, afrontou os povos quilombolas e indígenas, defensores naturais daquelas terras.

Tudo isso refletiu na economia, aumentou o racismo ambiental, e refletiu em práticas de degradação em todo país.

São tantas insanidades cometidas nesse governo, que passaríamos horas aqui elencando e debatendo.

 

Coletivo Tururu: No campo da militância, do profissional teria algo que você se arrepende ou faria diferente?

Herbert Andrade: Não! Sempre procurei ser extremamente profissional, tecnicamente competente e agir perante a legislação.

Claramente, sempre nos encontramos evoluindo e buscando aprimorar nossos anseios.

A política ambiental corresponde a muitas vertentes da sociedade, por isso em nossa evolução é preciso sempre lutar por justiça social e pela valorização da educação ambiental como ferramenta de desenvolvimento humano.

 

Coletivo Tururu: Deixa um recado para as pessoas que vão ler essa sua entrevista

Herbert Andrade: Que todos nós, possamos em um capítulo tão horrendo  de nosso país, RESISTIR!

Que tenhamos a capacidade de refletir e entender que somos e estamos no Meio Ambiente, somos parte de tudo que nos rodeia e somos responsáveis pelo cuidado ou pela degradação. De que lado você quer estar?

A consciência de cada um de nós é que pode fazer nossa cidade, nosso estado, nosso país, nosso planeta melhor, mais justo, mais inclusivo e sustentável.

Cobremos nossos direitos, cumpramos nossos deveres e nos fortaleçamos.

Politize-se

 

 

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