ENTREVISTA COM JOÃO SOARES, PRESIDENTE DO CONSELHO DE DIREITOS DE PAULISTA(PE)
João
Soares de Oliveira, presidente do Conselho Municipal da Criança e do
Adolescente de Paulista (PE), tem um grande desafio este ano que é o de
coordenar as eleições para o Conselho Tutelar e é sobre isso que o convidamos
para bater um papo.
Seu pleito,
como presidente do COMCAP, vai até 2024, possui uma experiência vasta no campo
e topou o desafio de responder as nossas perguntas.
Coletivo Força Tururu: Este ano teremos
mais uma eleição para um órgão fundamental, o Conselho Tutelar, como o COMCAP
se organiza internamente para este momento importante?
João Soares: A
lei atual diz que o Conselho da Criança e do Adolescente, o COMCAP, é o órgão
responsável pela organização do processo de escolha para os Conselhos Tutelares
do Município.
Então,
a legislação diz que temos que nos organizar, no mês de dezembro do ano
anterior à eleição, formando uma comissão, que aqui são quatro integrantes,
dois do governo municipal e dois da sociedade civil e ela deve ter apoio da
equipe técnica do Conselho. Estas são responsáveis por organizar todo o
processo desde as reuniões iniciais para elaborar o edital até a data da posse.
Então
se tem todo o acompanhamento para a legalidade. Essa comissão se reuniu e
conseguimos em tempo hábil, tendo em vista que o Município do Paulista foi um
dos primeiros a lançar o edital e nós já temos experiência nisso e ficou mais
fácil de organizar.
A
comissão é responsável por este acompanhamento, mas a equipe técnica é
responsável pela logística, pela parte administrativa, o contato com o TRE para
ver a questão das urnas, a compra de materiais, o contato com as escolas,
locais onde serão realizados os pleitos, o levantamento do quantitativo de
eleitores, ou seja, todo o processo de organização, o contrato das pessoas, o
treinamento das pessoas, para que possamos ter o dia da eleição, aquisição de
alimentos... Toda essa estrutura de logística é nossa equipe técnica que é
responsável.
Coletivo Força Tururu: Nesta eleição,
quais os principais desafios que o senhor elenca que com frequência, ocorrem?
João Soares: Primeira
coisa importante é que, infelizmente, nós não tivemos a atualização de nossa
lei. A lei do Conselho aqui de Paulista é de 2015, então, na realidade, estamos
há quase oito anos na pendência disso.
Recentemente
tivemos alguns problemas operacionais de entendimento, onde tentamos fazer uma
atualização, porém o processo burocrático, como também as questões políticas
mudaram um pouco o rumo. Não acatamos algumas posições tomadas e esse desafio
que temos hoje é a compreensão de que a eleição para o Conselho Tutelar é um
processo importante, pois vai escolher os profissionais da garantia dos
direitos da criança e do adolescente.
E
temos observado a baixa qualidade técnica desses candidatos. Eu não vou dizer
aqui que os atuais são assim, porque tem muita gente boa, profissionais
importantes, porém a gente sente essa dificuldade técnica para podermos ter
esses candidatos.
Outro
ponto importante é que, infelizmente, há interferência política partidária
neste processo e vem transformando a eleição em uma guerra e isso não qualifica
bem o profissional a ser escolhido e outro ponto constante é o dia da eleição,
porque temos que ter atenção redobrada, paciência, onde muitos candidatos não
querem respeitar a lei e trabalham no dia como se estivessem em uma eleição
para vereador.
Um
dos maiores desafios da gente é convencer as pessoas de que este é um processo
legal, legítimo, então precisamos ter pessoas de qualidade e impedir, na
realidade, que não haja influência política no dia da eleição.
Coletivo Força Tururu: Há por parte do
COMCAP ou acompanhamento do Ministério Público um resgate histórico dos
candidatos à vaga do Conselho Tutelar? A responsabilidade da indicação é apenas
das instituições que delegam cartas a estes?
João Soares: Este
ano tivemos uma mudança. Primeira parte a escolha desses profissionais. Infelizmente Paulista tem um histórico de
Conselheiros de mandatos que foram afastados por condutas irregulares, não
adequadas com o processo.
No
momento que esses profissionais foram afastados automaticamente ele não tem
mais legitimidade perante o Ministério Público a voltar a concorrer a essa vaga
e aí se faz uma análise do perfil desses candidatos sim, principalmente àqueles
que se destacam: os que participam dos trabalhos de forma intensa, os que estão
presentes nas formações, mas também, tanto o COMCAP, quanto o MP fazem o
impedimento dos profissionais que respondem ou responderam a processo, foram
afastados, tendo os seus processos devidamente julgados e condenados.
Com
relação a responsabilidade da indicação também tivemos mudança este ano. Na
realidade, até a eleição passada, o candidato deveria ter um vínculo com uma
entidade não governamental que fosse inscrita no COMCAP e a partir daí ter que
apresentar uma experiência de dois anos.
Agora, após uma recomendação do Ministério Público ocorreu uma
atualização de quem indicava e aí não só o COMCAP, mas também aquele candidato
que tiver experiência com criança e adolescente em qualquer instituição do
âmbito municipal, estadual ou federal, que seja reconhecido, esse candidato
pode pegar uma carta de indicação, como também pode ser habilitado a partir de
alguma entidade inscrita no Conselho Municipal da Assistência Social.
Um
candidato que, porventura, tenha experiência como professor da rede de ensino e
que a escola seja regulamentada pelo Ministério da Educação, pode indicar
também pessoas. Ou se ele tiver uma especialização na área da criança e
adolescente com no mínimo 360hs, também pode ser candidato. Então se abriu o
leque de possibilidades para que outros profissionais que tem experiências
diversas possam participar. Então isso é importante para a gente.
Coletivo Força Tururu: Você concorda que
há uma aparelhamento por parte do Conselho Tutelar por uma parcela de políticos
em Paulista?
João Soares: Infelizmente
eu concordo. A gente viu recentemente que houve uma manobra política para que
se pudesse mudar a lei. Os Conselheiros atuais fizeram o lobby para o apoio de
políticos, pressionando o prefeito para que ele assinasse uma lei tirando a
obrigatoriedade deles fazerem a prova para garantir as suas candidaturas, mas o
Ministério Público entrou com uma liminar para tornar sem efeito essa parte da
lei que fala sobre isso para que todos os Conselheiros de mandato tenham que
fazer a prova igual a todas as pessoas.
É um
processo que eu pessoalmente não aceito, porque no dia da eleição há uma
manobra parecendo candidatura para vereador, mas isso não é algo só nosso, de
Paulista, também ocorre em outros municípios, mas infelizmente, é algo
desagradável porque muitas vezes temos um profissional muito bom, técnico, onde
ele é inscrito, só que no dia da eleição não tem o apoio político-partidário e
acaba perdendo para outro com votação absurda e que, muitas vezes não tem
qualidade técnica.
Não
posso dizer que todos os conselheiros, mas uma boa parte tem essa parcela de
apoio por parte de políticos aqui no município.
Coletivo Força Tururu: O que não será
tolerado durante as eleições deste ano na cidade?
João Soares: É o
de praxe: são várias etapas, iniciando com o processo de inscrição e não vamos
tolerar falsificação ou pessoas que não tenham o trabalho definido, que não
possuam a carta ou declaração sem procedência, onde seremos muito rigorosos com
isso.
No
dia segue as mesmas normas de uma eleição, onde estamos mantendo contato com o
TRE para que se possam liberar as urnas eletrônicas. As negociações estão
bastante avançadas e estamos confiantes com o apoio que conta também com a
força do Ministério Público e se concretizado, termos as urnas, vai facilitar
muito as eleições.
Vamos
entrar em contato com a Política Militar, com o judiciário, para coibir
qualquer situação de boca de urna, compra de votos, utilizar a máquina
administrativa, influência religiosa... Vamos trabalhar muito durante todo esse
período de campanha e no dia, até mesmo sensibilizando a sociedade e os
próprios candidatos para que não partam para esse meio. Que façam eleições
limpas, objetivas, transparente e, se for flagrado utilizando esses meios serão
punidos e afastados, mas esse é o processo.
Coletivo Força Tururu: Qual o recado o
senhor dá para a sociedade sobre o pleito eleitoral ao Conselho Tutelar deste
ano?
João Soares: Estamos
pensando em fazer um vídeo sobre o pleito deste ano.
Para
que a sociedade possa escolher o candidato que tenha todos os requisitos é
importante que os eleitores conheçam um pouco da história dessas pessoas, a
parte técnica e a vida deles. Quando se abriu esse ano para que professores e
outros membros de outras categorias vinculados às políticas da criança e do
adolescente foi com o intuito da gente tirar o gesso que havia da exclusividade
das entidades ligadas ao COMCAP que pudessem indicar os candidatos.
Vamos
ter a oportunidade de outras pessoas, de outros segmentos, principalmente na
área da educação, profissionais qualificados, graduados para que possam, de
fato, trabalhar na garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes.
É
importante que a sociedade faça uma análise, um debate e não escolha um
candidato simplesmente porque alguém pediu ou político pediu, porque mais
adiante ela pode sofrer consequências graves se o candidato não conseguir
atender as responsabilidades que cabe ao cargo de Conselheiro Tutelar.
Eu fico
muitas vezes surpreso quando vejo candidatos que levantam bandeiras do
fascismo, que é a favor de armas, a favor de tortura e infelizmente tem muito,
porque é o candidato de “tal vereador” e se ele for de alas reacionárias e, de
repente for eleito, possa ser que contamine o Conselho.
Esse
é o que temos a dizer à sociedade.
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