A PRINCESA E O TRAFICANTE
Ele possuía garras afiadas que não a deixavam respirar. Aonde quer que ela fosse tinha que dizer o lugar, a cada passo que dava precisava falar qual perna iria primeiro. A princesa passou a viver uma vida de restrições, que não era dela e sim um complemento dele. Certo dia chegando em casa, ele bateu em rosto, não se sabe qual o motivo e nem se havia motivos para se bater. Achava a princesa, ingenuamente, que tudo se resolvia na conversa.
Por mais que ela
tentasse, não sabia, não conseguia fugir, suas garras eram grandes e parecia as
vezes que se sentia segura nesta prisão. Ele a batia, ela ficava toda doída,
ele depois pedia desculpas, ela o desculpava, ficavam felizes, até a próxima tapa
cara ou o próximo chute nas costas. Chamam isso de ciclo da violência. Soube a
pouco tempo dessa história.
A princesa
achava estranho, via um monte de meninas se embelezando, cada uma querendo ser
mulher de bandido. A oficial, né. Porque eles tem um monte, mas em quem ele
bate mesmo, a que ele chama de “dele” é só uma. Tem uma que pega todos os
pesos, segura os “forjados”, vive a vida do cara, apanha que só a porra, se
veste de uma roupa que muitas vezes não é a sua. No começo elas gostam pra caralho do cara,
mas depois a relação é mais de empregada, de dono da princesa. Pior de tudo é
transar sem camisinha, jajá se pega um “bucho”.
E quando esse caras
toma tiro na cara e fica arriado no chão, sangrando por todos os cantos, bate
uma tristeza no coração da princesa, uma angustia, uma voz na consciência que
martela na mente e faz com que elas acreditem que parte daquela merda ali é
culpa delas também. O cara novo, cheio de vida, esperto, com ideias na cabeça,
que sonhou um dia em viver a vida da forma mais legal que existe se debandou
pra bandidagem e não durou quase nada. Segurou seu pequeno reinado o quanto
deu, de resto foi comido pelo tráfico, pelas rinchas e por tudo de ruim que
existe no mundo. Não sobrou nada.
Mas por enquanto
isso ainda não aconteceu com o marido desta princesa da história. Tá por aqui
na vacilação, do mesmo jeito, se envolvendo em “ideias” que não é a dele,
fazendo cobrança, traficando cada pedra do tamanho de uma brita e quando pode
fazendo uns irmãoszinhos da mesma cor e condição social que ele ir primeiro ao
encontro de Deus... Ou com o diabo.
E a princesa tá
na corda bamba do desespero, uma hora dessas pensa em sair dos tabefes, outras
horas se faz de sombra no barraco onde mora. Sombra se vê, mas fica no canto
dela sem falar nada. Agora está tudo bem, o cara faz tempo que não a bate,
acredita que há uma luz no fim do túnel para uma mudança. Ela vai sair dessa.
Coletivo
Tururu
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