ENTREVISTA COM KARLLA PATRÍCIA: TRAVESTI, ATIVISTA E MORADORA DA COMUNIDADE DO TURURU



Karlla Patrícia da Silva, negra, 26 anos, travesti, ativista, profissional do sexo, bailarina, garçonete e moradora da comunidade do Tururu.  O Coletivo Força Tururu tem o prazer enorme de bater um papo com essa guerreira apresentar os desafios que ela enfrenta na vida e como é contorná-los em uma sociedade tão hipócrita que vivemos.  Vale a pena ler até o final, dizer um NÃO ao preconceito e fortalecer a luta.

Coletivo Tururu: Quando surgiu a Karlla dentro de você?

Karlla Patrícia: Surgiu quando eu tinha 9 anos. Sempre  tive essa Karlla dentro de mim, mas não podia assumir ela por conta da família e a sociedade. Aos 12 eu não aguentava mais, me sentia sufocada por dentro porque tava vivendo uma vida e uma pessoa que nao era eu. Dai aos 12 anos eu assumi ela pra toda minha família e toda sociedade. Eu me assumi.

Coletivo Tururu: Por que você acha q a sociedade lhe impedia de assumir a Karlla que sempre esteve dentro de você?

Karlla Patrícia: Porque temos uma sociedade heteronormativa e machista  que não aceitava que eu “Fábio”, o homem, saísse da visão da sociedade como eles veem o homem, como aquela coisa forte macho e etc.  Para ir para um sexo que eles acham que é um sexo frágil, delicado e meigo (SIC). Eles nao aceitavam e não aceito que eu sempre fui um mulher e o homem que eles viam em mim nunca existiu, era só uma fantasia que me fazia mal.

Coletivo Tururu: E depois que assumiu isso pra você e pra comunidade. Foi como tirar um peso das costas? Como se sentiu?

Karlla Patrícia: Nossa me sentir livre! Eu me sentia como se eu tivesse me descoberto a pessoa que eu sempre tive vontade de ser. A comunidade  de imediato não aceitou, mas eu fui em frente lutei contra tudo e todos para  viver livre e ser a pessoa que sou hoje.

Coletivo Tururu: Como é ser uma trans em uma sociedade tão hipócrita?

Karlla Patrícia: Nao é facil, porque nós, Travestis e Transuxuais e homens Trans somos tudo que essa nossa sociedade não quer  ver e nem ter por perto. Nos tratam como lixo humano e essas transfobia só aumenta os índices de assassinatos de pessoas Trans. O brasil é um país que mais mata pessoas Trans no mundo. Eles (a sociedade) não aceitam os conceitos postos por nós, e a sociedade tem muita  culpa nesses assassinatos. A todo momento uma trans é agredida. Isso (a luta que ela está) é um trabalho árduo, mas nós  mesmas, pessoas trans, estamos fazendo um trabalho de formiguinha: conscientizando e fazendo uma trabalho de humanização.

Coletivo Tururu: O que vc tem feito para mudar esta realidade?

Karlla Patrícia: Eu sou uma ativista. Eu faço trabalhos de conscientização, rodas de conversas, palestras e até trabalho em grupo nas ruas com outras travestis.

Coletivo Tururu: Especificamente no Tururu. Vamos falar do bairro agora. Como a comunidade te vê?

Karlla Patrícia: Bom... Hoje a comunidade me vê com mais respeito porque estou mais empoderada, mas não foi sempre assim, eles me viam como marginais e não respeitava minha identidade de gênero. Até hoje têm pessoas aqui na comunidade que não respeitam, mas isso pode acabar  com o tempo. Nós terminarmos de conscientizar toda nossa comunidade que travestis  e transuxuais não são coisas ruins como eles acham,  tem muito, inúmeros coisas boas pra falar. O ruim (de se estar nesta sociedade) é que nós somos tão agredidas diariamente que já ficamos “armadas” para rebater as agressões sofridas diariamente.

Coletivo Tururu: Que tipo de trabalho você queria fazer com as trans da comunidade?*

Karlla Patrícia: Eu não queria, eu já faço! Junto com parceiros fazemos trabalho de formação e empoderamento para amigas e amigos trans, travestis aqui na comunidade, como disse anteriormente.

Coletivo Tururu: Qual teu maior medo?

Karlla Patrícia: Meu medo é perder minha vida por ser quem eu sou, ou seja, ser morta pela sociedade por não aceitar minha orientação sexual e minha identidade de gênero.

Coletivo Tururu: Já tentaram violência contra você por ser trans?

Karlla Patrícia: Todos os dias  sou violentada na rua, no local de trabalho em repartições públicas, dentre outros locais. Eu “mato” mais de 2 leões por dia.

Coletivo Tururu: Pode citar um exemplo concreto?

Karlla Patrícia: Um exemplo de violência que sofro são, tipo em shoppings, pois não nos deixam eu usar o banheiro feminino e isso é uma violência. Outro exemplo é eu passar na rua e homens e mulheres  estarem rindo de mim, me chamando de nomes pejorativos: frango,viado, “aidético”, e etc.

Coletivo Tururu: E qual o teu maior sonho?

Karlla Patrícia: Sao tantos [risos],  mas o que eu queria mesmo era viver  em paz com todo mundo vivendo e respeitando o próximo sem ter tanta violência e também ter minha casa própria e sair do mundo da prostituição porque isso não desejo pra ninguém.

Coletivo Tururu: Se tivesse a oportunidade de olhar cara a cara pro povo preconceituoso o que você diria?

Karlla Patrícia: Eu diria: se amem e parem de viver a vida do outro e viva a sua porque vida, você só tem uma. Simples assim.

Coletivo Tururu: Deixa um recado bem legal pra todas as pessoas que vão ler esta tua entrevista

Karlla Patrícia: vou terminar com uma reflexão:
"Evite as pessoas agressivas e Transtornada, Elas afligem o nosso espírito, se você se comparar com os outros você se tornará presunçoso e magoado,
faça tudo para ser feliz!!
- Cid Moreira. -


Esperamos que este seja o primeiro de outros bons outros papos que venhamos a ter. E dizer que as lentes e a luta do Coletivo Força Tururu estão à disposição da causa LGBTQI. Vamos em frente que temos muitas coisas para construir e estamos apenas começando.

Comentários

  1. Entrevista massa!
    Muito mais conhecimento e empoderamento pra você mulher guerreira, de luta e da luta. Sigamos fortes!

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  2. Parabéns, Karla, pela sua atitude diante da vida - vc é KARLA e ponto!

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