ENTREVISTA: PESSOAS QUE SE MUDAM DE CIDADE, MAS O CORAÇÃO PERMANECE NO MESMO LUGAR
Hoje entrevistamos Roberta Tavares, que foi moradora do nosso bairro e agora está alçando voos no Rio de Janeiro, mas nunca esqueceu suas raízes. Moradora do bairro da Madureira, estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo, está estudando também a comunidade do Tururu para o seu TCC e foi nessa ideia, juntando tudo isso, que resolvemos bater esse papo legal com ela.
COLETIVO TURURU: Qual seu campo de estudo na faculdade e porque escolheu a comunidade do Tururu?
Roberta Tavares: Esse ano termino a faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Minha pesquisa iniciou em 2015 quando fui passar as férias na casa da minha mãe, no Janga [bairro onde fica localizada a comunidade do Tururu, região metropolitana do Recife] e fiquei impressionada ao ver as ruas desertas, monótonas, sem vida e propícias a assaltos, aumentando assim o índice da violência. Fiquei com o seguinte questionamento: - Até que ponto a Arquitetura pode influenciar na violência e vice-versa? Os moradores constroem muros altos, remetendo as cidades medievais, tentando se proteger, tornando-se um prisioneiro em sua própria casa, com isso as ruas não abrigam mais a luz das varandas, não há uma visão de dentro de casa para fora. E o que fazer para apaziguar esta situação? O que falta no entorno dessas ruas? Os questionamentos iam surgindo...
O Janga não tem praças que agreguem de forma funcional, e decidi fazer um projeto de intervenção urbana, orientada pelo prof. André Luiz, mas esta intervenção não seria em qualquer local, escolhi o Tururu, a comunidade precisa de um espaço de lazer adequado, onde todos possam utilizar, desde da criança até o idoso. Uma praça agrega pessoas, propicia momentos de convivência e recreação.
COLETIVO TURURU: Como conheceu o Coletivo Força Tururu?
Roberta Tavares: Busquei pela internet ONG's, associação de moradores... ou seja algo que estivesse próximo à comunidade e encontrei pelo Facebook o CFT, fiquei muito feliz, e ao ver as fotos e os videos, constatei que a comunidade não está só, vocês fazem o real sentido da frase "respeito pelo próximo", as atividades que são desenvolvidas, os encontros com os moradores, a luta contra a violência, ouvir mães que carregam a dor de não poder ter o filho de volta, são unidos em busca de melhorias. pois mostram pra eles que na comunidade pulsam vários corações e que existem mãos que quando unidas transformam as dificuldades em oportunidades. Tenham certeza que o trabalho de vocês é muito importante, por mais que existam as dificuldades, não deixem de assistir a esta comunidade, vocês fazem a diferença na vida de cada morador e serão lembrados pelos ensinamentos e atitudes pelo resto da vida.
COLETIVO TURURU: O que você enxerga do Tururu de antes e do Tururu de agora?
Roberta Tavares: Estou tendo mais contato, conhecendo mais a fundo de uns tempos pra cá. Acredito que aos poucos o Tururu estará bem desenvolvido, o povo não pode parar de ir em busca dos direitos.
COLETIVO TURURU: Como é sair de um um estado e ir morar em outro com realidades muito diferentes? Pernambuco antes e agora Rio de Janeiro?
Roberta Tavares: Cheguei no RJ em 2010 e me deparei com uma cidade gigantesca, me sentia uma formiga, diante de tantos prédios altos, pessoas passando pra lá e pra cá, costumes diferentes, comidas, cultura, outras gírias, as pessoas não entendiam quando eu falava: - Arenga, charque, arrodear, simbora, vixe, oxe, marminino, entre outras palavras, eu estava acostumada com Recife, onde nasci, não é fácil ficar longe da família e dos amigos, chorei muitas noites, acordava achando que podia pegar um ônibus e em 02 horas está no Janga rsrs. Fui bem recebida pelos cariocas, fiz grandes amizades, o RJ oferece muitas oportunidade de estudo e emprego, mas tem que "ralar" muito. Tenho muito orgulho do meu estado PE e sou grata por todas as conquistas que tive no RJ. E eu tinha o objetivo em crescer como pessoa e profissional, realizar meus sonhos e pra isso precisava fazer escolhas, não me arrependo. Somos do tamanho do nosso sonho :)
COLETIVO TURURU: Você pensa em voltar? Sim, não, porquê?
Roberta Tavares: Penso sim, mas ao mesmo tempo em que penso já sinto saudades do RJ. morei durante muitos anos no Conjunto Praia do Janga, tenho amigos no Tururu e gosto muito da região pela história e admiro a garra dos moradores em buscar o melhor para a comunidade. Voltaria sim ao Janga, gosto muito.
COLETIVO TURURU: Qual a imagem que você tinha e, ou, tem do Tururu?
Roberta Tavares: Eu tinha uma imagem diferente, por não conhecer a fundo e depois que passei a ler, ouvir e ver as histórias, percebi que tinha que ter vivido/convivido mais com a comunidade. Morei na Favela da Rocinha durante algum tempo e fiz uma pesquisa de extensão pela faculdade na Favela de Manguinhos (ambas no RJ) com isso aprendi ainda mais sobre a vida dentro das comunidades, existem muitas coisas a serem feitas.
No Tururu encontramos crianças, trabalhadores, jovens, idosos...todos com uma expectativa e com muito orgulho de onde moram. A violência infelizmente existe em todos os locais, mas dentro dessas comunidades, existem pessoas do bem, que tem sonhos e lutam pelos seus direitos, pessoas guerreiras que merecem todo o respeito da sociedade.
COLETIVO TURURU: O que você levou no coração do bairro para onde você mora agora?
Roberta Tavares: Levei no coração a praia do Janga, a alegria de cada pessoa, o frevo, o maracatu, a ciranda de Dona Duda... Falo para os cariocas sobre a cultura do meu Estado, o quanto é contagiante e a receptividade dos Pernambucanos que é inenarrável.
COLETIVO TURURU: Deixa um recado para quem lê nossas postagens do blog.
Roberta Tavares: Pessoal !!!
Vamos para dentro das comunidades, vamos nos unir com associação de moradores, ONG's ou outros grupos inseridos. Passar para os demais os nossos conhecimento e ter a mente aberta para receber novas ideias e ensinamentos, chegar junto e lutar com os moradores, tenham certeza que isso faz toda a diferença.
Por: Coletivo Força Tururu
Acesse mais em:
coletivotururu@gmail.com
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