ENTREVISTA COM KAROL, CANTORA E COMPOSITORA.

 


Estamos na segunda edição do Edital Cultural Canta Pra Vida, que é desenvolvido por nós, do Coletivo Força Tururu, para promover o trabalho de mulheres cantoras e compositoras da região metropolitana do Recife.

Neste ano de 2021 a vencedora foi Karolaynne Nicoly Santos da Silva ou simplesmente Karol, de 27 anos, da cidade de Camaragibe, e ela nos deu uma entrevista arretada de boa, contando um pouco da sua história de vida e do trabalho que iremos concretizar com o edital, gravando a música vencedora que ela compôs e finalizando com um clipe.

Ah, dando um rápido spoiler, a entrevista é emocionante!!!

Link do Edital 2021: http://coletivoforcatururu.blogspot.com/2021/07/edital-canta-pra-vida-2021.html

 

Coletivo Tururu: Por que você resolveu se inscrever no Edital Canta Pra Vida, do Coletivo Força Tururu?

Karol: Eu já conhecia o edital, pois em 2020 tinha me inscrito. Esse ano uns amigos meus me marcaram na publicação. Dei uma lida no edital, escolhi uma das minhas música... Também já conhecia o Coletivo Força Tururu e me inscrevi no último dia possível.

Eu tenho várias músicas incompletas e peguei a que mais tinha a ver com a ideia do edital cultural.

O artista independente tem bastante dificuldade em lançar alguma coisa, eu já tinha gravado, mas sempre tive várias dificuldade e o edital eu vejo como incentivo muito legal, principalmente para mulheres pretas que não tem condições de gravar, de ir a um estúdio, então essa é uma boa oportunidade.

 

Coletivo Tururu: Conta um pouco da história, da ideia, dessa música que você enviou pra gente e que acabou sendo a vencedora.

Karol: É uma história real, uma história que realmente aconteceu. O menino da música é meu avô que saiu cedo de casa sem apoio da família. O laço de passarinheira é como se fosse as armadilhas da vida e quando eu era mais nova eu era da igreja e escutava muito essa expressão.

Meu avô como gostava muito de forró e eu ouvia com ele, me vem sempre essa coisa do Sertão, de seca...

A “moça rosa” é a minha avó que depois de um “dedo de prosa”, o meu avô teve que casar com ela e naquela época “conversou” tem que casar. Os dois tiveram quatro filhos, um deles a minha mãe e inclusive a minha mãe compõe, mas eu fui criada pelos meus avós.

 

Coletivo Tururu: A música tem tudo a ver com sua história de vida, então seria importante você falar quem é Karol? Qual sua história?

Karol: É um pouquinho grande (risos). Minha mãe engravidou de mim na adolescência, conheceu meu pai, que era um pouco mais velho e tiveram dois filhos.

A gente não tinha assistência nenhuma, minha mãe era sem instrução e começou a usar drogas logo cedo. Meu pai também e nesse meio termo minha avó decidiu pegar eu e meu irmão para criar a gente.

Nessa época a gente morava na Várzea (Bairro da Zona Oeste do Recife) e vi muita violência, minha mãe foi presa algumas vezes, meu pai também e vivíamos nos mudando de casa e até que na minha adolescência fomos para o bairro da Caxangá, mas passamos pelo Curado, Totó, que foi onde eu terminei o Ensino Médio.

Eu era uma ótima aluna, por sinal, mas na minha cabeça tinha tanta coisa, tantos problemas que quando cheguei no terceiro ano acabei reprovando.  Na escola eu tinha convivência com o coral, com música e me encontrei posteriormente com a cultura popular e comecei a fazer os cocos (ritmo musical tipicamente nordestino).

Eu não conhecia praticamente nada porque fui criada na igreja, tinha o preconceito e coco era “macumba” e quando eu comecei a ver de perto a percussão eu me apaixonei. Hoje eu sou percussionista.

Acho importante falar mais sobre a minha história e vai fazer dois anos em janeiro que eu perdi meu irmão pra violência, ele foi assassinado! Vivemos realmente os vários “laços de passarinheira” e nesse meio tempo minha mãe foi recolhida novamente, ela vive em depressão, já morou na rua e depois disso tudo eu vim morar em Camaragibe (cidade da Região Metropolitana do Recife).

Aqui eu trabalho em uma barbearia, eu e meu companheiro. Sou recepcionista. Com a pandemia deu uma parada em tudo e não consegui fazer mais nada, então se juntaram todos os problemas: perda do meu irmão, minha mãe presa, meu avô faleceu...

Eu tô falando isso porque foi importante eu acreditar em mim de novo, que eu poderia cantar de novo, me inscrever no edital, essa música estava incompleta e eu terminei para o Canta Pra Vida. O pessoal me marcou na postagem, mas eu não estava mais afim, empolgada, porém deu tudo certo.

 


Coletivo Tururu: Quais são suas expectativas com as etapas que vão vir: gravação da música e o clipe?

Karol: O bairro da Várzea é um espaço muito cultural e lá eu conheci muitas pessoas. As minhas músicas sempre tem a ver com a natureza. E eu queria aqui citar o professor Pernã e ele tem um pedaço de um trecho de música que é “em toda árvore das plantas eu vejo um caboclo de lança”. E nunca mais eu olhei pra uma árvore sem ver um caboclo de lança.

E tudo isso me inspira, eu quero tocar, quero fazer show, estou com muita saudade disso! E a gravação de uma música com um clipe vai ser muito legal para até conseguir trabalhos na área. Eu sempre digo que toco e canto, mas não tenho nada lançado e isso é muito legal de ter um material para fazer divulgação e ainda mais com vocês ajudando na divulgação pode ter um alcance muito bom e ter retornos positivos.

Coletivo Tururu: Deixa um recado para as pessoas que irão ler essa entrevista

Karol: Eu sempre vou nessa tecla de que de onde você vem não determina para aonde você vai e eu acho que já escutei muitas coisas que desanimam a gente ao longo da vida, mas a ideia é que não se pode desacreditar.

Eu estava me desacreditando e aconteceu algo muito legal que foi vencer esse edital. Eu sou a ansiedade em pessoa e estou com vontade de cantar e gravar o clipe.

A questão é sobre insistir, em acreditar mesmo!

 

Ao longo dos próximos meses de 2021, o Coletivo Força Tururu vai fazer um trabalho, juntamente com karol, de divulgação da sua música. Já estão ocorrendo algumas reuniões e os próximos passos são: gravação em estúdio e posteriormente gravação do clipe.

Você pode acompanhar tudo em nosso instagram e divulgar o passo a passo deste lindo trabalho que estamos promovendo através da 2ª Edição do Edital Cultural Canta Pra Vida.

É o fortalecimento da cultura popular e de dar oportunidade a mulheres de periferias que não teriam condições de lançar produções próprias, que são lindas e emocionantes.

  - A edição do canta pra vida 2, a presente música contou com a produção e arranjos de Mateus Guedes (Deriva).

 

Quer saber mais sobre o Coletivo Força Tururu? Acessa:

 

www.instagram.com/coletivo_tururu

www.youtube.com/eusoucoletivo

ou nos manda um whatsapp (81) 98409-9587

 

 

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