MURIBECA: INUNDAÇÕES E FORTE ESPECULAÇÃO PELOS TERRENOS DO LOCAL
Por
Coletivo Força Tururu
O que um barco está fazendo aí, no meio do nada?
Poderia ser até uma brincadeira ou um pescador que utiliza este transporte vez
ou outra, que por hobby, o leva em sua caminhonete para pescar no mar, mas não,
este barco não está aí em vão. Ele traz
uma triste expectativa de que a comunidade pode encher, inundar, cercar-se de
água e tal imagem retrata realidades problemáticas no local, que possui uma
relação muito forte com o direito ao território, à moradia.
Com um transporte público deficitário, poucos
itinerários de ônibus, as pessoas andam um percurso de mais de 1,5km para
chegar a um ponto descoberto e pegar a principal linha da comunidade. À noite,
as ruas são muito escuras, porque há terrenos espaçados e baldios na
localidade, o que gera medo em parte da população. É neste cenário, aparentemente caótico, mas
rico de um povo cheio de sonhos e luta que queremos contar nossa história de
hoje.
Desde 2022 que o Coletivo Força Tururu vem
trabalhando como uma de suas temáticas principais o direito à moradia. Já no
ano seguinte incorpora ao hall de
ações o direito à cidade e, a partir das articulações em parceria com outras
instituições, promove uma sequência de intervenções que se desencadeiam da
campanha “Paulista, território nosso”.
O Coletivo Somos
Todos Muribeca, é uma das inspirações do CFT mesmo sem ter desenvolvido
atividade alguma conjuntamente. Havia um acompanhamento de longe, do trabalho
deste coletivo de Jaboatão dos Guararapes (PE), com sua incidência, mobilização
de moradoras e moradores, audiências públicas, intervenções importantes que
visam o fortalecimento do bairro e a luta pelo direito ao território e pelo
direito à cidade.
O dia do encontro tardou, mas aconteceu e foi na
data de 13 de julho de 2024, quando integrantes do Coletivo Força Tururu foram
dialogar, aprender, trocar experiências, com o povo querido do Somos Todos
Muribeca. Como trouxe Adriana Silva,
integrante do CFT: “Um território tão rico, bem localizado, porém semelhante
aos problemas comuns que ocorrem nas periferias do Brasil, com transporte
público precário, questões de moradias, forte especulação empresarial, graves
problemas ambientais, econômicos e sociais”.
E, de fato, uma questão importante chamou a
atenção: há diversas construções empresariais no local do ramo da logística.
São barreiras de concretos que estão sendo construídas no bairro, em volta das
comunidades, com mais de sete metros de altura, sem plano de drenagem ou
esgotamento sanitário, quem está dentro dessas barreiras, tem o conforto de que
tudo vai dar certo, gerar lucro, porém quem está do lado de fora vive o medo
com o receio das chuvas inundarem o local, as casas ficarem submersas e as
pessoas terem que abandonar seus lares, construído a tanto trabalho e suor.
Caso este que já vem ocorrendo em Muribeca.
Empresas se instalando no local por conta do
capitalismo desenfreado, do consumo, estão sendo construídos vários
estabelecimentos no bairro, no campo da logística, para os produtos escoarem
mais rápido para todo o estado, mas sem se preocupar com a população local. O
que importa é o lucro e o resto que se vire, talvez seja assim que eles pensam.
Um grande aterro de empresas está se
consolidando em Muribeca, que não seguem o padrão de construção onde a água
deve ficar submersa, no lugar dela, e a população do local tem receio de que
isso possa acarretar graves problemas de cheias constantes no local,
evidenciando, sem dúvidas, o escancarado racismo ambiental. E, segundo Marcelo Trindade, integrante do Somos
Todos Muribeca, este problema do aterro pode afetar mais de 40 mil famílias,
não apenas os moradores do bairro, mas dos vizinhos também.
Marcelo fala que tudo é em devido ao famoso e
velho "progresso", mas nós perguntamos para quem. Ele complementa que
o Coletivo está para fazer um diagnóstico desses empresariais, mas que ainda
estão procurando recurso, para saber quantas pessoas estão sendo empregadas no
local, analisar a degradação ambiental, qual a contrapartida para as
comunidades no entorno.
As principais ações do Somos Todos Muribeca
foram e são enfrentar todo um sistema que tende a vender o bairro à especulação
empresarial logística, à especulação imobiliária; trabalhar a formação
juntamente com os moradores a partir da educação libertadora, a partir da ideia
de ensinar a pescar. E quando necessário dá um suporte à comunidade, como
ocorreu na enchente de 2022, comprando mais de 15 carros pipas com dinheiro de
doações; compra de velas e fósforos, algo tão simples, para as pessoas poderem
ver as coisas dentro de casa e, segundo Marcelo, “uma das principais ações foi
a luta de fazer com que o bairro não desaparecesse, pois tudo que tivesse em um
raio de 12m na área dos prédios, seriam também destruídos. E foi aí que a
gente atou para que o bairro não morresse”.
Devido a essa luta constante o STM também é responsável
pela aprovação da ZEIS Muribeca nº 1294/2016 e isso só foi possível a partir da
articulação de muitos moradores e da ocupação da Câmara de Vereadores de
Jaboatão.
O Somos
Todos Muribeca é uma organização da sociedade civil que surgiu em junho de
2015, no Conjunto Muribeca, uma área periférica de Jaboatão dos Guararapes, na
Região Metropolitana do Recife (RMR), sendo liderada pelos próprios moradores
do bairro. Naquela época, a comunidade estava passando por um processo de
desocupação e demolição de prédios, casas e estabelecimentos devido a problemas
na construção dos antigos edifícios residenciais e ao risco de desabamentos.
Você
pode doar para o Somos Todos Muribeca através da chave pix: doe@somostodosmuribeca.org
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