A importância das rezadeiras
Quando
um homem negro sem religião vai até uma rezadeira ele vai também em busca dessa
ancestralidade cultural, e a Dona Nina que mora as margens da PE-15 em Olinda,
é alguém que nos cativa. Não foi a primeira vez que procurei esta pessoa que
recebeu o dom repassado de mães para filha, sempre há algo de enigmático
naquele lugar, algo que toca o íntimo de uma maneira que não consigo explicar.
Nina
é uma mulher de idade avançada, com as mãos e rosto marcados pelo tempo, seu
olhar é profundo, que observa atentamente com um chumaço de folhas nas mãos
enquanto nos sentamos diante dela. Sinto-me observado, não apenas fisicamente,
mas como se ela enxergasse além da pele, como se penetrasse em minha alma e,
com uma voz suave, inicia a reza pedindo para o pai nosso, para nossa mãe, para
os anjos de luz.
A
cada palavra, a cada passada dos ramos de aroeira, sentia uma leveza invadir o
corpo, mas, ao mesmo tempo, uma estranha inquietação. Quando, após uns dez minutos,
ela termina a reza, olha com mais intensidade nos meus olhos e pergunta com tom
risonho:
“Você
tem muito dinheiro, tem?”
E
afirmou:
"Você
está com olhado, meu filho. Olhado de homem e de mulher."
Eu
tenho é o coração bom, Dona Nina, respondi sorrindo, seguindo para um abraço na
velhinha que aproximadamente um metro e cinquenta.
Sentamos
por mais alguns minutos e conversamos sobre o poder que as rezadeiras carregam.
Ela me disse que a reza é algo que médicos e padres indicam, pois existem
doenças que não se curam com remédios, têm energias que não se quebram apenas
com medicação. Aos arrepios e risos, falas sobre a ancestralidade e a carga que
sua mãe passava por ser rezadeira, falamos das energias que também me cercam,
trazendo ciclos que devem se encerrar banhos que deveria tomar. Sempre fui um
homem que carrego comigo uma grande carga emocional que junto vem os olhares da
sociedade, os olhares carregados de julgamentos, de racismo e outras coisas.
Naquele
momento, não sabia exatamente o que significava o olhar que a rezadeira
mencionava, mas senti que minha jornada continua longe de ser concluída. E que,
talvez, seja necessário encarar a complexidade dos olhares — de homem e mulher
— para entender as camadas de mim mesmo que nunca explorei.
Experiências
como essa vivida com a Dona Nina estão cada vez mais difíceis de serem vividas
e presenciadas, pois existem poucas pessoas que desejam e têm o chamado para
este dom. Viva as rezadeiras e a espiritualidade que é mais forte que a
religiosidade e nos faz ser mais humanos para acreditar que as nossas energias se
refletem muito no outro.
Texto escrito por Cidicleiton Luiz, integrante do Coletivo Força Tururu.
Bom dia dona Nina!Como faço para receber um benzimento a distância estou precisando com urgência me ajude! Deus abençoe !
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