Educação ambiental e comunicação popular e comunitária made in PE
Por Robério Daniel da Silva Coutinho
“Não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade
que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma” (Papa
Francisco, 2013)”
A
“periferia” aqui tratada pelo pontífice na sua encíclica sobre a natureza
pode/deve ser entendida como a vida humana e a vida não humana na Terra - uma
casa comum de todos. Assim, “o tema ambiental é muito mais que uma escolha
sábia e necessária nos tempos atuais – em que muito se fala, mas pouco se faz
pelo Meio Ambiente (e pela humanidade) – é também uma motivação para continuar acreditando
que um mundo melhor é possível” (OLIVEIRA, 2014 apud SILVA, 2014).
No
entanto, esta crença por um mundo melhor necessita passar por uma “nova ética
que valorize não só a vida humana, mas a vida não-humana” (LIMA, 2004), por
meio de atividade e de saber que busca reconstruir a relação entre a educação,
a sociedade e o meio ambiente visando formular respostas teóricas e práticas
aos desafios colocados por uma crise socioambiental, como, por exemplo, o
extermínio de jovens nas periferias de Pernambuco, quando compreendemos que a
questão ambiental está para além de sua vertente conversadora, não reduzindo-se
só a fauna, flora e recursos naturais, mas incluindo o homem como parte.
Essa
perspectiva ética demanda uma educação ambiental emancipatória, da qual Lima
(2004) discorre como aquela que procura enfatizar e associar as noções de
mudança social e cultural, de emancipação/ libertação individual e social e de
integração no sentido de complexidade. Uma mudança social oriunda de uma
insatisfação ou inconformismo com o estado atual do mundo, com as relações
sociais que os indivíduos estabelecem entre si, com as relações dos indivíduos
consigo mesmos e com as relações que estabelecem com o seu meio ambiente.
Dentro
deste contexto, destaca-se aqui a busca por uma mudança social proveniente
desta perspectiva de educação ambiental emancipatória praticada por uma comunicação
popular e comunitária promovida pelo Coletivo Tururu, grupo de jovens da
comunidade do Tururu no bairro do Janga, na cidade de Paulista, na Região
Metropolitana do Recife, em Pernambuco. Há mais de um ano, o grupo vem fazendo
um trabalho local de educação e comunicação socioambiental. Tem mostrado que a
vida humana (especificamente a dos jovens mortos) e a vida não humana (os
problemas da mata atlântica no bairro) carecem de uma educação visibilizada por
meio de uma prática comunicacional simbólica através da referida realidade
social de violência vivida no bairro, a fim de não naturalizar a morte dos
jovens, mas encará-las como um extermínio e que carece ser problematizada e
perceptível por toda comunidade em busca de nova realidade.
Um vida
(árvore) para cada jovem assassinato na periferia
O
Coletivo Tururu está imerso na campanha de educação e comunicação “Eu não quero
ser o próximo”. Nela, através da utilização de recursos da comunicação, em
especial da fotografia, audiovisual e de cartazes lambe-lambe, têm-se inserido
discussões na comunidade referentes à bandeira de luta permanente do grupo (dar
visibilidade à violência e extermínio da juventude). Este ano, um dos pontos
auges da campanha integra a questão socioambiental via a estratégia de
mobilizar a comunidade e a sociedade em geral para uma iniciativa prática e
simbólica de associar a vida da árvore com a vida do jovem - ambos que sofrem
com as violências nestes aglomerados humanos urbanos. No próximo dia 5 de maio,
uma muda de árvore será plantada na mata do Tururu (reserva da floresta
Atlântica no local) para cada jovem que foi assassinado na comunidade. A ação
não é para simbolizar a morte, mas para valorizar a vida e pedir um basta no
extermínio - não à violência e contribuir na esperança em um mundo melhor para
todos.
Além
dessa atividade, a campanha “Eu não quero ser o próximo” vem atuando na
articulação de diversas ações sistemáticas para atingir o objetivo supracitado.
O objetivo central é chamar a atenção pública e política para o problema do
extermínio dos jovens. O Coletivo Tururu tem organizado um grupo de jovens na
comunidade a fim de serem formados em educação popular para debater a temática
da violência e extermínio da juventude através da fotografia e elaboração de
vídeos sobre jovens e a comunidade, e tem realizado exposições de fotografia.
As
estratégicas de comunicação e de educação popular do grupo têm apostado na elaboração
também de jornal fanzine com o tema em questão e distribuído na cidade, como
instrumento e processo informativo e formativo permanente. Também produzem e
afixam banners pela comunidade/bairro. Neles, há fotos dos moradores com dados
sobre a violência no Estado e o extermínio da juventude, denunciando e chamando
a atenção da população para este gravíssimo problema.
A
experiência desenvolvida pelo Coletivo Tururu vem demonstrando pública e
politicamente em uma comunidade de Paulista, com reflexos para outros bairros,
cidades e estados, que não haverá mesmo “harmonia e felicidade para uma
sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si
mesma”. É por isto que (a partir da insatisfação deste jovens com relação ao
estado atual do amplo e ainda naturalizado problema da violência e morte da
juventude no bairro, e com relações que são estabelecidas com o seu meio
ambiente) eles buscam provocar a mudança social através da referida educação e comunicação
popular e comunitária. Tais iniciativas começam a ser reconhecidas à nível
nacional. O Coletivo foi premiado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos
pela produção do Documentário “Tururu: Justiça, Paz e Vida” e pelo Ministério
da Cultura pelo conjunto das ações desenvolvidas pelo grupo.
Muito bom gente parabenizo o coletivo pela inciativa, não podemos ficar inertes a este Estado violência, a situação na comunidade de Peixinhos Olinda não é diferente da realidade de outras periferias, a violência contra os jovens, principalmente negros é alarmante! O Grupo Comunidade assumindo Suas Crianças - GCASC fez um relatório pesquisa com o grupo mães da saudade realizaram entre julho e agosto de 2014, essa pesquisa junto a famílias em Peixinhos que tiveram parentes assassinados ou que estão em cárcere no sistema prisional, o relatório aponta que Peixinhos sofre de luto endêmico, isto é, a experiência da perda de um ente marca a maior parte das casas do bairro.
ResponderExcluirUma das mazelas desse Estado omisso!
Agradecemos, Rogério. Valeu de coração, abraços.
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