Entrevista: Juventudes, suas lutas e seus direitos


Eliedson Machado da Silva, mais conhecido como Léo (apelido de infância), um grande militante, no Recife, Educador Social desde 2007, estudante de Bacharelado Ciências Sociais UFRPE, está atualmente como Técnico de Educação não Formal de Nível Médio da FASE Pernambuco.
Um papo massa batemos com ele sobre as políticas de juventude e como a conjuntura atual se a presenta para a organização dos jovens.  Léo é um conhecido nosso de longas datas, está nas fronteiras das lutas sociais assim como nós, do Coletivo Força Tururu e aqui, no nosso blog ele contou muita coisa legal.


Coletivo Tururu: Conta um pouco da tua história pra gente.

Léo Machado: Vixi dá um livro (risos). Nasci  em Areias (bairro do Recife), vivi e me socializei nas Zeis (Zona especial de interesse social) Jardim Uchôa e Caçote. Aprendi a nadar no Rio Tejipió e tive muitos momentos de descontração e travessura na Mata do Engenho Uchôa. Sempre tive uma admiração pelo movimento político comunitário e iniciei minha militância política nos movimentos de Reforma Urbana, uso e ocupação do solo. Fui do grupo de apoio da Zeis Caçote e participei de muitos processos de mobilização local da Comissão de Urbanização da Posse da Terra (COMUL). Aos 16 anos passei a me apropriar de temas relativos a juventude e meio ambiente, daí então não parei mais, fiz militância de juventude minha juventude inteira.

Coletivo Tururu: Como você enxerga o movimento de juventude em Pernambuco?

Léo Machado: Enxergo como um movimento plural, organizado e legítimo, tem a participação da cidade e do campo de maneira sistemática e ativa. O movimento das juventudes - melhor chamar assim! Tem uma diversidade de pautas, que são pautas reivindicativas na perspectiva das garantias de direitos das e dos jovens pernambucanas e pernambucanos. De maneira sistêmica atua localmente e faz incidência política e de modo organizado. Muitas são as articulações, vão desde manifestação das linguagens culturais tradicionais e modernas, passando pela educação contextualizada, permanência na terra e territórios até o direito à cidade.



Coletivo Tururu: Hoje, quais os principais desafios da juventude?

Léo Machado: Fazer valer toda uma luta que mobilizou milhares de jovens no Brasil durante uns 20 anos, para garantir que os jovens fossem vistos como sujeitos de direitos pelo Estado brasileiro. Sem dúvida pôr em prática o Estatuto das Juventudes é a maior delas.

Coletivo Tururu: Diante da grave crise que nos encontramos, com o aumento significativo de homicídios sobretudo da juventude negra quais são as perspectivas da juventude pobre, de periferia?

Léo Machado: No atual contexto de perda de direitos seria uma irresponsabilidade falar que existe alguma. Partindo do princípio que as duas grandes políticas do Governo Federal é o Plano Nacional das Startups e o ID Jovem! Por si só elas não dão conta da redução das desigualdades e muito menos promovem de modo mais sistemático e coerente o enfrentamento ao racismo. A perspectiva das/dos jovens negras(os) da periferia das grandes Regiões Metropolitanas como a de Recife é o fortalecimento local através atuação de coletivos comunitários, prestação de serviços e comércio informal, sem dispensar a elevação do nível educacional, seja na elevação escolar ou no acesso a universidades públicas e privadas através de cotas raciais, sociais ou bolsa de estudos.

Coletivo Tururu: Juventude e política tem a ver?

Léo Machado: A conquista de ter a juventude como sujeito de direitos no Estado brasileiro é uma conquista política! A luta pela redemocratização, Diretas Já, as revoluções contra o aumento da passagem e melhoria do transporte público em 2005, junho de 2013 e a organização em redes e fóruns tem diretamente a ver com política. As juventudes tem um modo próprio de fazer e acontecer na política, com sabedoria, múltiplas linguagens e com a vitalidade geracional, se distanciando cada dia mais do modo conservador e autoritário de fazer política. 

Coletivo Tururu: Quais os espaços que há hoje no Recife (redes e fóruns), no Estado que o jovem pode procurar para sua formação política?

Léo Machado: Hoje os espaços de formação na qual eu referendo são os das organizações não governamentais que desenvolvem ao longo do ano uma série de atividades entre elas a FASE Pernambuco. Já passou o prazo mais a Secretaria Executiva de Juventude do Recife em parceria coma Universidade Federal Rural de Pernambuco, tem realizado um curso de extensão com foco na cidadania ativa. Além desses momentos específicos de formação tem um espaço interessante de participação e monitoramento da Política Pública de Juventude, que o FÓRUM DAS JUVENTUDES DE PERNAMBUCO (FOJUPE), um espaço aberto ao diálogo, sem interferência de partidos políticos, governos ou gestores públicos.



Coletivo Tururu: Você acha que a juventude está adormecida?

Léo Machado: Não, não acho. Os jovens tem se movimentado com características próprias e priorizado muito mais seus territórios e linguagens culturais inovadoras para propagarem o que pensam. As juventudes nas comunidades têm um papel importantíssimo de formação de opinião e mobilização de outros jovens no "tete-a-tete", longe de macroestruturas que movem organizações do movimento estudantil, da juventude sindicalista e de jovens partidários por exemplo. 

Coletivo Tururu: Qual o papel da juventude nesse cenário que se encontra hoje o Brasil com o avanço do fascismo?

Léo Machado: Não existe um papel específico, além do mais nesse cenário que ao mesmo tempo às juventudes são vulnerabilizadas e criminalizadas, ao mesmo tempo também são potencial consumidores e força de trabalho. Agora não se pode "arredar o pé" frente às conquistas já obtidas antes do golpe, o ESTATUTO DAS JUVENTUDES é um importante instrumento para cobrança de direitos e efetivação das PPJs nos seus 11 direitos, que vale ressaltar é constitucional. Mas fica a dica lutar sempre temer jamais!



Coletivo Tururu: Deixe um recado para as pessoas que irão ler essa entrevista.

Léo Machado: "Um passo à frente e você não está no mesmo lugar!" Chico Science, com esse recado é importante mobilizar seu grupo, comunidade, time de futebol, a galera do RPG, do baseado, da igreja, do terreiro todo mundo pra falar sobre politica Pública de Juventude e a importância do ESTATUTO DAS JUVENTUDES, na vida prática das e dos jovens. 


Agradecemos a Léo a colaboração com o Coletivo Força Tururu, através dessa entrevista, bem como a luta do seu ativismo por dias melhores.

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