Por que na minha rua tem tanto lixo e buraco?
(O Racismo Ambiental)
Por:
Rodrigo Correia de Lima[1]
A problemática ambiental nos leva a reflexões
mais aprofundas sobre a vida e suas várias faces.
A partir desta perspectiva, ao falar em
racismo ambiental, é indispensável o debate quanto à relação direta entre as
desigualdades sociais e a degradação ambiental.
De acordo com a pesquisa do PNUD (2011): Sustentabilidade e Equidade: um futuro
melhor para Todos, vários fatores são apontados, mostrando que as populações
empobrecidas são aquelas que mais sofrem com os impactos ambientais negativos. Exemplo
disto é a devastação das florestas entre 1990 e 2010, na América Latina, Caribe
e a África subsaariana, que tiveram grandes perdas de vegetação. Segundo o
relatório citado, estes locais devastados eram utilizados principalmente por
mulheres que sustentavam suas famílias. Ainda, de acordo com o PNUD (2011), são
as mulheres empobrecidas, negras e indígenas, que estão mais expostas às
catástrofes naturais, assim como a falta de oportunidades as tornam mais
vulneráveis socioeconomicamente. Os dados desse Relatório demostram o quanto as
áreas mais empobrecidas do planeta continuam sendo exploradas, jogando milhares
de pessoas na pobreza, cerca de 350 milhões de pessoas – a imensa maioria em
situação de risco e vulnerabilidade social – vivem em florestas ou em suas
proximidades, dependendo inteiramente dessas para sua subsistência e
rendimento.
Estas relações tão íntimas da problemática
social com a problemática ambiental não são restritas as áreas rurais ou as
reservas extrativistas. Pode-se observar também nas periferias das cidades, o
quanto a população empobrecida padece com a deterioração do ambiente.
Na Região Metropolitana do Recife (RMR)
existem exemplos variados de como a população empobrecida sofre com a
degradação ambiental. Nos morros: pontos de risco de deslizamento; nas
planícies: áreas que sempre sofrem com inundações; no transporte público: situações
precárias de funcionamento e estrutura; na saúde: precarização da rede de
atendimento; na educação: desvalorização gradativa do serviço e falta de
investimento; na infra-estrutura: falta de saneamento e calçamento das vias
públicas, bem como falta de controle na especulação imobiliária etc.
O mapa dos conflitos envolvendo injustiça
ambiental e saúde no Brasil, produzido pela FIOCRUZ (2010), por exemplo, aponta
os impactos causados pela construção da Arena de Pernambuco para a Copa de 2014
no Brasil. A comunidade mais atingida foi o bairro do Timbi, em Camaragibe, cidade
localizada na RMR, onde cerca de 600 famílias foram removidas de suas casas
para a construção do ramal de acesso à Arena e outras obras do empreendimento.
Os principais problemas relatados pelos
moradores foram: a falta de clareza quanto ao processo de remoção e os valores
baixos das indenizações.
Fica nítido que os empobrecidos são
esquecidos e invisibilizados pelo poder público, que defende os interesses das
grandes corporações e o modelo de desenvolvimento predatório que tem suas bases
no acúmulo de riqueza. Gera-se com isto, a discriminação das comunidades da
periferia na qual a maioria da população é negra, fazendo com que estas comunidades
sejam lembradas apenas nas estatísticas da violência, das catástrofes
ambientais ou quando estão no caminho de algum grande empreendimento e precisam
ser removidas.
Outro fato preocupante consiste nos casos em
que, com bastante frequência, áreas mais empobrecidas das cidades são
escolhidas para acolherem indústrias com um alto potencial poluidor, como ficou
constatado na pesquisa realizada por sindicalistas e ambientalistas na década
de 1970 nos EUA, a qual deu origem em 1982 ao Movimento por Justiça Ambiental,
na Carolina do Norte.
O movimento questionava a iniquidade
ambiental e este fato fez com que a justiça ambiental entrasse na pauta do
movimento ambientalista.
Foi averiguado pelo movimento de justiça
ambiental da Carolina do Norte, que um componente muito importante para ser
observado nas escolhas de áreas para empreendimentos de risco socioambiental era
o fator racial, o que levou o reverendo Benjamin Chavis, criar a expressão
racismo ambiental para designar “a imposição desproporcional – intencional ou
não – de rejeitos perigosos às comunidades de cor”.
No Brasil o Racismo Ambiental foi conceituado
por um Grupo de Trabalho Contra o Racismo Ambiental, que tem sua origem na articulação
de entidades socioassistencias, membros de ONGs, pesquisadores e militantes
ligados à Rede Brasileira de Justiça Ambiental. Assim, foi definido Racismo
Ambiental como as “injustiças sociais e ambientais que recaem de forma
implacável sobre grupos étnicos vulnerabilizados e sobre outras comunidades,
discriminadas por sua ‘raça’, origem ou cor”.
E então: Por que na minha rua tem tanto lixo
e buraco?
Observa-se que a resposta fica evidente
diante das prioridades que a sociedade do capital coloca para seu
prosseguimento: continuar concentrando a riqueza gerada socialmente e
socializando os problemas socioambientais para o restante da população. Nessa
direção é mister questionar: Como manter um modelo de desenvolvimento infinito
dentro do sistema Terra, que é finito?
Os problemas são vários e, por enquanto,
estão caindo apenas na população em situação de risco e vulnerabilidade
concentrada nas periferias, nos povos tradicionais: indígenas, quilombolas,
povos de terreiro, pescadores artesanais entre outros, que tem o meio ambiente
como fator essencial para a manutenção do seu modo de vida. É importante
alertar que tais problemas se desenvolvem em cadeia e se tornarão insuportáveis
para a toda a sociedade.
É necessário edificar um modelo de sociedade
que o ser humano e os outros seres vivos sejam atores principais, ou seja, um
modelo em que a vida seja respeitada e não vista como uma mercadoria. Uma
sociedade em que os jovens não sejam vistos como meros consumidores, em que as
pessoas não precisem TER para SER.
Por fim, se faz necessária a reflexão de que
para se construir uma sociedade sustentável as diferenças culturais, religiosas
e étnicas devem ser respeitadas, pois a alteridade é fundamental para alcançar
o sonho de uma sociedade com justiça socioambiental.
Referência
ACSELRAD,
Henri. MELLO, Cecília Campello do A. BEZERRA, Gustavo das Neves. O que é justiça ambiental? Rio de
janeiro: Garamond, 2009.
FIOCRUZ.
Mapa dos Conflitos Envolvendo Injustiça
Ambiental e Saúde http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/index.php?cod=507.
Acesso em 04/07/2017.
PNUD.
Relatório do Desenvolvimento Humano 2011. Sustentabilidade e Equidade: Um Futuro
Melhor para Todos. New York, NY , USA: PNUD, 2011.
[1] Mestre em Gestão do Desenvolvimento
Sustentável pela UPE, Especialista em Gestão Ambiental pela FAFIRE e Licenciado
em Geografia pela UPE. Leciona na escola estadual de PE EREM Profº Cândido
Duarte. Já militou na Pastoral da Juventude do Meio Popular e no Conselho
Pastoral dos Pescadores NE2.
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