ENTREVISTA: SONHOS E UTOPIAS DA JUVENTUDE


Entrevistamos Wellington Neto da Silva, 27 anos, Secretário nacional da Pastoral da Juventude do Meio Popular, professor, morando e trabalhando em Sergipe, formado em licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas. O tema da entrevista é: quais os sonhos e utopias dessa juventude? A conversa foi massa, super descontraída, que traz história de vida a ser seguida, onde precisamos acreditar sempre em dias melhores.
Coletivo Tururu: Natural de onde? E em que área da militância atua?
Wellington Neto: Natural da cidade de Murici – Alagoas, porém toda minha vida criada em Messias – AL. Murici nasci e Messias me criou, minha vida inteira em Messias e parte em Maceió e na militância atuando na área de Direitos Humanos e Juventude, na Pastoral da Juventude do Meio Popular e também na área da educação como prática para liberdade.
Coletivo Tururu: Como é ser um jovem negro e nordestino?
Wellington Neto: Tem um peso muito forte, primeiro que ser jovem, pobre e preto tem um peso, principalmente na questão da negação de 500 anos de direitos, da terra, da cultura... Às políticas essenciais para o bom desenvolvimento humano. Eu venho esses dias trabalhando em sala de aula a pergunta “onde está o negro na sociedade brasileira?” e estão nas periferias e nos trabalhos subalternos, recebendo a repressão do estado, através dos “baculejos”, por exemplo. E quem sofre tudo isso nessas senzalas atualizadas, de 2017 somos nós, apenas modernizou a forma de exclusão, de escravidão e por aí vai. Então eu me sinto a partir disso motivado a seguir lutando na desconstrução dessa negação de direitos essenciais e que construamos a verdadeira democracia racial, uma sociedade sustentável e igualitária e esse é o peso maior pra gente. E é importante dizer também que a história do Nordeste é uma história de luta, de sobrevivência.
Coletivo Tururu: E diante desses problemas todos, como manter nossos sonhos vivos?
Wellington Neto: “Um sonho que se sonha só é só um sonho, um sonho que se sonha junto é realidade”.  Nesse tempo tão difícil em que vivemos, é um processo muito de autocrítica, estamos muito na defensiva, porque vivemos nesse conflito de classes sociais, de uma classe que tem o domínio sobre a outra e a ideia era que vivêssemos em uma sociedade igualitária, mas não é assim.
E nesse processo da defensiva que nós sempre ficamos, só que agora muito mais agressiva, é um processo de muita… (silêncio) Eu particularmente estou em um processo muito forte de resiliência e auto crítica e como inspirar os sonhos é através de me inspirar em outras pessoas que dedicaram a sua vida nesse processo de igualdade, de sociedade justa: Jesus Cristo, Zumbi dos Palmares e tantos outros e tantas outras.
Coletivo Tururu: Qual o maior desafio de sua vida?
Wellington Neto: Ser o que sou hoje é maior desafio de minha vida, eu acredito (risos). Essas perguntas estão muito fortes! Com todos esses estereótipos que foram criados, essas formas de estratificação criada, por ser negro, nordestino, pobre... E hoje sou professor, formado em ciências sociais, tenho emprego... O maior desafio foi percorrer todo esse caminho, algumas desistências, algumas superações, mas aqui estou e o desafio não pára e o maior de todos os desafios é viver, então é contínuo.
Coletivo Tururu: Você saiu das Alagoas para morar em Sergipe, já rodou o Brasil na sua missão de militância e até alguns países do mundo. Encarar diferentes lugares, viajar para vários cantos é um sonho de muita gente. O que você tem a dizer sobre isso? Sobre esse lugares que já conheceu?
Wellington Neto: Tudo isso foi proporcionado pela militância, principalmente quando cheguei na secretaria nacional da Pastoral da Juventude do Meio Popular – PJMP. Algumas viagens só ia para o lugar, mas eu não tinha a oportunidade, as vezes nao dava nem tempo de sair, fazer turismo, porque o principal não era isso, não é conhecer os lugares. Para mim fantasticamente das viagens que eu fiz para fora do Brasil, ficou marcada, a Jornada Mundial da Juventude, na Cracóvia (Polônia), da história do lugar, inclusive, o espaço que representa para a Igreja Católica e foi um espaço de muita comunhão, onde eu pude conhecer muita gente de diversos países. Foi uma experiência que ficou marcada e muito jovem gostaria de estar participando.
E o México, onde eu passei meu aniversário lá, no encontro do CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano), e particularmente eu amo os países da América Latina, se eu pudesse conheceria todos os países. O México tem uma simbologia cultural extremamente forte, desde os Incas, Astecas, a questão indígena, então isso mexe muito comigo, me encanta e eu fiquei fascinado com o país. Visitei vários museus, enfim...
No Brasil em diversos lugares, na zona rural, nos grandes centros urbanos, trocando experiências com a galera jovem e para mim tudo isso me fez crescer muito, tudo que a gente fez e faz é pedagógico, é um crescimento pessoal e coletivo, porque vai se multiplicando e compartilhando saberes com diversas pessoas e adquirindo com essas experiências.
Quando a gente vai viajar assim muita gente no meu facebook dizia “poxa você tá viajando demais”, mas essas viagens são a trabalho, quando sobra um tempinho ou então entra na programação aí dava para fazer um turismo e conhecer, porque faz parte também.
Também tive uma experiência interessante no Paraguai, quando participei da Escola de Formação Florestan Fernandes, quando visitamos alguns assentamentos na região de Foz do Iguaçu, quando resolvemos passar na Ponte da Amizade e passar o dia no Paraguai.
Agora em novembro faz um mês que estou em Sergipe, uma experiência muito bacana, um processo de construção e é uma nova mudança nos projetos de vida, fazer militância por meio da educação, um enfrentamento a essas pautas super conservadoras, que estão sendo utilizadas, importas na sala de aula para criar exclusão e intolerância, então eu na sala de aula fico muito realizado, é o ponto principal, quando construímos valores em defesa dos Direitos Humanos e a escola é um espaço de politização.
Coletivo Tururu: E acha que daqui a 10 anos vai desistir de algo?
Wellington Neto: Não sei. Somos seres subjetivos, planejamos uma coisa, depois não dá certo e se for desistir de algo será de alguma forma um aprendizado e espero que eu só desista daquilo que eu ver que não vai ser bom pra mim e não vai contemplar nada em meus sonhos.


Coletivo Tururu: Queria insistir nesses pontos aliás em um ponto parecido. Me fala dos seus arrependimentos o que eles prejudicaram ou ajudaram nos seus sonhos, nas suas utopias?
Wellington Neto: Eu tenho muitos arrependimentos, dos mais bobos aos mais complexos. Teve um período que eu fiquei desmotivado na Universidade e isso me atrasou muito, perdi dois anos praticamente, mas devido a uma necessidade, ou eu trabalhava ou eu estudava e teve uma época que eu nem trabalhei nem estudei, dando valor a outras coisas e isso atrapalhou muito a minha vida, me deixando numa inércia, mas a realidade sempre mostra um choque de realidade quando a necessidade bate na porta.  Atrasei na pesquisa do TCC, muita coisa e isso é um arrependimento, hoje eu faria tudo diferente e daria mais prioridade ao trabalho e ao estudo.
Isso fez com que eu perdesse muitas oportunidades de empregos bom que eu sonhei, mas ficou como aprendizado.
Coletivo Tururu: Num Brasil onde estamos lutando para que manter os direitos que conquistamos depois de muito suor e sangue quais as perspectivas que temos para a juventude? Sobretudo a juventude que mora nas favelas?
Wellington Neto: Muita gente ralou para conquistar direitos que estão ameaçados ou  que já foram retirados. Em relação a defesa da vida da juventude das periferias houveram políticas públicas muito tímidas, o que conquistamos foi graças às mobilizações e pressões de diversas organizações de juventude, vejo que falta vontade política do estado brasileiro em garantir políticas públicas. Nesse contexto político que estamos na defensiva é essencial a união e o diálogo entre tais organizações que lutam em defesa da juventude.
E principalmente estar junto da realidade, da comunidade, ser base. Não podemos falar de perspectiva para juventude empobrecida se nossa militância não vivencia na prática e na base e penso que um processo que vivenciar a comunidade e nela trazer provocações principalmente a juventude sobre como mudar tal realidade desperta a inserção de mais sujeitos na luta por direitos, é o velho novo método da educação popular.
E se você chega na periferia, por exemplo, e vai perguntar a galera, quais são as perspectivas de vida e tá muito relacionado a questão de ter um emprego, uma casa, moradia e aí quando a gente vai olhar não existe as possibilidades criadas e isso muitas vezes é desmotivante para o jovem, então acredito que é um processo em que a gente tem que ir ao encontro, se ficamos muito na ideia de fazer militância, do debate, ocupando os espaços, que é importantíssimo, mas sem estar juntos, sem ver o jovem na integralidade sobre sonhos, vidas e utopia, acabamos falando de perspectivas de vida que não condiz com a realidade e acaba sendo uma militância muito artificial, superficial, de palavras bonitas sem saber mesmo o que o povão quer.
Coletivo Tururu: Mas vc acha que podemos vencer todos esses problemas?
Wellington Neto: Somos movidos pela utopia, né isso? A gente vai galgando sonhos Em direção à utopia, se chegamos em determinado lugar foi porque acreditamos que podemos, se nós pararmos nunca superaremos as adversidades sociais, por isso penso que construir a nova sociedade é um processo contínuo movidos por sonhos durante o caminho ao encontro da utopia.
Coletivo Tururu: Deixe um recado para as pessoas que vão ler esta entrevista.
Wellington Neto: Se a gente se organiza é porque a gente acredita que pode ser superado e nunca perder à utopia. Ela que nos move a continuar sonhando. “O sonho alimenta a alma, assim como a comida alimenta o corpo”.
Para conseguirmos chegar em determinados objetivos é necessário boas perspectivas.
O Coletivo Força Tururu agradece a Wellington Neto pelo tempo que guardou pra essa conversa com a gente e que permaneça sempre firme em seus ideais, lutando por uma sociedade mais justa, participativa, ativa e militante.

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