MATARAM UM, O QUE ACONTECE DEPOIS?



São por volta das 22h. Quatro tiros se ouvem. Após o primeiro, o silêncio toma conta da comunidade. Quem está em casa diz “isso é tiro” e arregala os olhos assustados com medo de quem ainda está na rua e pode ser mais um novo alvo e quem está na rua se amedronta querendo saber o que houve e quanto tempo ainda continuará essa situação de medo.
        Depois que se passa os quatro tiros e intermináveis 3 segundos que dividem o primeiro do último tiro, as pessoas persistem no alerta e aos poucos vão atuando com “naturalidade” em busca das notícias ou da alma que foi ceifada.  Os tiros acertaram o alvo, foi assassinado mais um jovem preto que fica estirado no chão a espera de um roteiro já montado que o perseguirá pós morte, composto por curiosos, mãe que chora ao ver o filho estendido de olhos abertos, a televisão que chega e já faz seu julgamento e a polícia que isola a área a espera do IML.
        Livre-mos este jovem que foi assassinado de todos os seus estigmas e o que sobra? Um rapaz que tem mãe, que tem amigos e que tinha uma vida.  E que a história que ele se envolveu, não exclusivamente por culpa dele, mas por uma diversas série de culpados, acaba se quebrando, o ciclo natural da vida se despedaça, o filho morre primeiro que a mãe e de forma tão brutal.  E essa mãe fica órfã e vivendo com dores e tristeza intermináveis.
        Livremos mais uma vez este rapaz, agora do julgamento da mídia, que atrelou a sua morte a uma série de questões negativas, como quem diz: “ele mereceu morrer!”. Se o livrarmos disso, o que sobra?  Sobra uma vida que ele tinha pra frente e que poderia ser cheia de possibilidades, mas que foi arrancada, porque ninguém nasce errado, mas as condições da vida que deixam a juventude em caminhos errados.  Uma multidão de amigos lamentam a sua morte, pois sim, esse jovem tinha amigos e era querido por muitas pessoas.
        Mataram mais um, a comunidade irá viver o seu luto, das mais diversas formas. Até quando viveremos com essas dores presas em nossas vidas como se fossem marcas que nunca se apagam? Mataram mais um na comunidade e não será o último.  Sofremos dia e noite pela falta de oportunidade e isso não é vitimismo, é fato.

Por Coletivo Força Tururu

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Comentários

  1. Lamentável ter que ler mais uma notícia dessa. Eu sou mãe e me coloco no lugar da mãe desse jovem, não é esse percurso natural da vida,não são as mães que normalmente enterram seus filhos/as. Está violência tem sido frequente nas comunidades, precisamos nos organizar para mudar este quadro.
    Eu não quero ser a próxima vítima nem ver outras famílias desmoronadas por causa dessa desigualdade social; dessa política opressora que trata o ser humano como coisa, objeto; que banaliza a vida como se matar fosse a coisa mais normal do mundo, e mais, como se resolvesse o problema.

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  2. Foda que nem sempre precisa ter envolvimento em alguma história errada ou de criminalidade pra que isso venha acontecer...Não se tem respeito pela vida nos dias de hoje, principalmente dos dos pobres e negros...

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