O Pássaro de ferro nas comunidades de Pernambuco

*


Eu vejo um pássaro de ferro sobre a minha cabeça e aos poucos ele desce.
Sobre a minha só não, sobre todas aqueles/aquelas que acreditam em dias melhores, onde possamos ir vir, andar pelo Tururu, circular pelos bairros vizinhos, sem medo do escuro, da curva na próxima esquina.

Nem sempre esse pássaro de ferro vigiava meus caminhos, nem sempre ele ficava aqui o tempo todo, mas depois de tantos fatos fatais, de mortes que ocorreram, sem que as Secretarias do Estado se planejasse para que os homicídios não acontecessem, es parece que a nossa proteção, de fato, agora existe! Antes só a nós pertencia, agora o Estado toma providências. E tudo agora virou Segurança Pública e para que tudo isso fique mais evidente somos vigiados por pássaros, não esses canários ou pardais, mas de ferro, helicópteros que nos acordam de manhã com voos rasantes.

Seu som é tão distorcido aos meus ouvidos que chega a balançar meu coração, com seus ventos fortes. Vejo a hora dele pousar nas telhas brasilits das casas que povoam o Tururu. À noite sua luz é tão clara, estampada por seus gigantes refletores, de extensão tão grande e visível que fico a pensar: "o que tanto procura em minha comunidade?” procura gente preta? Suspeita, né? E se achar, como farão? Descerão em cordas esticadas do céu até o chão como ninjas militares? Ou alvejarão o suspeito com AK-47? Em nenhum momento a “Segurança Pública veio dialogar com a gente” é sempre assim, ação de cima pra baixo e os de baixo que se lasquem e se acostumem.

Durante o dia dá ainda pra dar uma “brechada” por entre as telhas de sua casa que se levantam devido ao vento forte que produz esses pássaros de ferro.  Mas quem sabe a função deles seja outra, de levar a gente pra conhecer ares nunca antes flutuáveis, céus de nossa Paulista, de Recife e eu sei que já me viram caminhando pelas ruas São João, Aparecida, Floresta, beco do Mussum e por que não me levas para um sobrevoo lindo na minha comunidade? Mas sem dar rasante pra não acordar a população que já rala pra caramba dia e noite e precisa de um pouco de sossego.

Mas na verdade o medo que faz é que eles não queiram oferecer voo a ninguém. E pensando nisso quero saber para quem estão à serviço? A quem prestam contas?  São tantas perguntas que não temos respostas porque em nenhum momento vieram dialogar conosco sobre Segurança Pública.

Cheguei tão cansado do trabalho as 18:30... E ao invés de calmaria, ouço o girar de hélices que não param mais. Quando não é de manhã cedo é final da tarde, noite, é a hora toda. Tudo isso para mostrar que esses pássaros barulhentos de ferro estão cumprindo um papel excepcional (sic) a nossa proteção que é ilustre também.

Chego a conclusão, depois de muita reflexão, de que sei do que se trata esses pássaros de ferro, aliás esses helicópteros, aliás, sei de quem eles estão atrás: de gente preta, de gente humilde, de gente como todo mundo aqui, porque pelo fato apenas de sermos pobres com agravante de sermos negros, somos suspeitos para o Estado.

Muitas pessoas podem achar que esse texto é desnecessário e que a presença do helicóptero seja necessária, porque não refletem e nem o governo quer que reflitam o que de fato é Segurança Pública, um instrumento que vai além do controle de nossos corpos, vai além de efeitos midiáticos, publicitários e, ou eleitoreiro. Segurança Pública no Estado trabalha mais reprimindo do que prevenindo, não dialoga com a sociedade, não se insere no meio do povo, prefere usar seus instrumentos de perseguição para invadir nossas privacidades e vida, porque tudo depende do aparente sentimento de segurança da sociedade, mesmo que este em uma análise mais aprofundada, nos dias de hoje, não esteja ocorrendo de nenhuma forma.

E amanhã, será que o pássaro de ferro volta?

* imagem retirada da internet

Por Coletivo Força Tururu

Comentários

  1. Essa ê a nova ordem uma imagem que reflete um estado falido na sua competência e que nos mete medo sabemos que o perigo não está entre nós. Enfim resta-nos a decência , alegria criativa coletiva ,isso eles nunca conseguiram nos roubar...

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  2. Exato Francisco, vamos nos unir também para que as pessoas pensem no que pode ser verdadeiramente segurança publica.

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